Não tem tanto tempo assim, mas a minha lembrança é confusa sobre o dia do diagnóstico. Só não me esqueço de que minha esposa e eu nos abraçamos, ficamos em silêncio por algum tempo, choramos e partimos para “o que precisaremos fazer agora?”.
Ler no papel que o meu guri tem "Transtorno do Espectro Autista nível 3 de suporte" foi impactante, mas amortecido pela fé, pelo amor que experimentamos entre nós três e pela determinação de Rafaele, minha companheira. Com ela aprendi no mesmo dia que a informação clínica não era ponto de chegada do garotinho, mas o início de uma jornada que a vida nos inscreveu sem pedir opinião.
Não havia nada definido a não ser que o nosso filho tinha uma condição que lhe desafiaria muito mais do que outras crianças na idade dele naquele momento, depois na adolescência e na vida adulta. Mas, juntos, trabalharíamos para ajudá-lo. Nosso amor ficou mais forte. A nossa fé também.
Há uma certeza entre nós de que sempre é possível para ele. De alguma forma o moleque demonstra isso também. O diagnóstico, ainda que com as mesmas informações técnicas, autista nível 1 ou 2 ou 3 de suporte, apresenta-se de formas diferentes para cada pessoa. Na oralidade, na marcha, na cognição, nas condições sensoriais, tudo junto ou um ou outro aspecto. Por isso é fundamental dar as mãos e avançar na direção do apoio que a criança vai precisar. E não só ela vai depender disso. Os pais também. Sobretudo as mães.
A crueldade dos dados disponíveis em relação ao impacto do diagnóstico ajuda a explicar o porquê do peso sobre as mães. No caso específico do autismo, um estudo mais recente mostra que 41% de pais, maridos, chefes de família, pensaram em sumir de casa a partir do laudo do filho. Outra pesquisa mais ampla, feita há mais tempo, indicou que 78% de pais abandonam as mães de criança com deficiência ou doença rara antes que elas completem os cinco anos de idade. Uma realidade horrível e aterrorizante para quem fica.
Tudo isso destrói o estado emocional, até desse pai — não acredito em nenhuma felicidade fruto de um abandono desse tipo —, mas principalmente da criança e da mãe. Por isso é preciso buscar ajuda.

No avião, a gente aprende que, quando as máscaras de oxigênio caírem, deve-se cuidar de você para, em seguida, cuidar de quem precisa. Grosseiramente é mais ou menos isso com a chegada do diagnóstico.
Precisamos nos organizar e reorganizar a família, as expectativas, as finanças, a saúde mental e fazer toda a rotina que será imposta caber no tempo, na cabeça e também no bolso. Nem sempre será uma coisa depois da outra. Muitas vezes será tudo junto. Seremos desafiados a todo o tempo, o tempo todo. Mas é fundamental que a gente não negligencie a nossa necessidade de preparação para enfrentar o que ainda é desconhecido, e que será incrivelmente gratificante vivenciar as vitórias todos os dias juntos.
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