Diferentemente do posicionamento dos 19 ministros ou chefes de Estado que compõem com o mandatário Jair Messias Bolsonaro o G-20, grupo formado pelas maiores economias do mundo mais a União Europeia, Bolsonaro, em sua fala de abertura na 76º Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), desta terça-feira (21), em Nova York, fez questão de discursar apenas para seus seguidores.
Ao abrir o encontro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou como a polarização contribui para o aumento da desinformação, em especial no combate a Covid-19. Além disso, trouxe palavras como solidariedade, direitos humanos, paz e equidade como valores centrais para os países saírem das crises causadas pela pandemia.
No entanto, a fala do secretário-geral vai de encontro ao que Bolsonaro tem pregado. Ao ser o único presidente que ainda não foi imunizado, ou foi e não saberemos pelos próximos 100 anos, já que o Planalto impôs sigilo ao assunto, o discurso de Guterres parece ter sido feito na medida para ele.
Nos primeiros segundos do seu discurso, o presidente brasileiro crítica e ataca a imprensa. Disse que diferente do que é noticiado, o Brasil mudou depois que assumiu o governo. Destaca que não há corrupção, esquecendo do envolvimento dos filhos nos esquemas de "rachadinhas'' e funcionários fantasmas.
Reforça ser um presidente que acredita em Deus, respeita a família tradicional e salvou a nação do socialismo. Insiste em dizer que agora o país tem credibilidade diante do mundo.
Defende que temos o melhor código florestal e combate ao desmatamento, mas o presidente esqueceu também que na prática falta cumprir a legislação e foi no seu governo o afastamento do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, após envolvimento com venda ilegal de madeiras.
Quando disse que o Brasil é fonte de energia renovável, Bolsonaro não mencionou que há algumas semanas o país sofreu com ameaças de apagões e enfrenta uma das maiores taxas de cobrança nos talões de energia.
E como nota de rodapé, para cumprir tabela, Bolsonaro, ao mencionar as ações contra a Covid-19, não reforça a importância da imunização. Ressalta apenas que até novembro todos que escolherem se vacinar serão atendidos. Um descaso diante das famílias dos mais de 590 mil óbitos no país.
Ainda no discurso, disse ser totalmente contrário ao passaporte sanitário e criticou os países que não adotaram o tratamento precoce contra o novo coronavírus.
Em seu pronunciamento, Bolsonaro fez mais do mesmo. Não improvisou, não repensou suas opiniões e nem procurou “fazer bonito” para a ONU, ministros e chefes das 19 economias.
A preocupação dele era falar para os seus do Brasil. Para aquela parcela que foi no último dia 7 de Setembro às ruas pedir o fechamento e prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Os que defendem o voto impresso e acreditam que o país estava à beira do comunismo e socialismo, sem, na maioria das vezes, entender os conceitos dos sistemas políticos.
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Bolsonaro se preocupou em falar para a base defensora, aquela capaz de muita coisa para cumprir a permanência dele no poder. Para o presidente do Brasil, pouco importa o isolamento geopolítico. Ele e sua bolha criaram uma realidade paralela perfeita, onde não há fome, miséria, violência, inflação e tantos outros problemas que a classe mais carente tem enfrentado.
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