A pandemia nos trouxe inúmeros desafios. Tivemos que nos reinventar como sociedade. Na demora da disponibilidade de vacina para todos, única estratégia realmente eficaz para conter o avanço do vírus, o distanciamento social foi adotado como política pública causando impactos importantes na forma de nos relacionarmos.
Considerando vivermos em uma sociedade marcada pela relação mercado e consumo, a pandemia exigiu das empresas dinamismo, rapidez e criatividade para que pudesse continuar a oferecer seus produtos e serviços de forma a sobreviver mantendo-se competitivas e minimamente lucrativas. Nesse cenário, desafiador e incerto, a necessidade de funcionar de forma remota se impôs a todos, produzindo avanços inimagináveis poucos anos atrás.
Muitos, enquanto ainda tentam se adaptar ao remoto, carregados de nostalgia do passado, continuam a sonhar com um retorno ao status quo anterior à pandemia, imaginando voltarem ao estilo de vida que viviam antes de serem constrangidos a esse novo formato para o qual não foram preparados. Esse sonho, certamente, não vai se realizar. Estudiosos e organizações dedicadas ao estudo do tema afirmam que esse é um caminho sem volta.
Nesse sentido, refletir sobre as novas formatações profissionais e de carreiras, necessárias a esse novo formato, se impõe como uma exigência urgente a gestores públicos e privados.
Oferecer e manter canais digitais modernos, com experiências de uso agradáveis ao consumo, trouxe, para diversos setores, a expansão de horizontes até então vislumbrados apenas a longo prazo.
Equipes de trabalho, de pequenas e grandes empresas, demonstraram capacidade de planejamento e produção, aprimorando suas ferramentas de gestão, seus softwares de controle, bem como ambientes inteiros seguros e disponíveis para que todos desempenhassem suas funções de forma a atender as novas exigências de um ambiente de trabalho totalmente virtualizada.
Esse cenário, aparentemente favorável às empresas e aos empregados da área de tecnologia da informação, acabaram por trazer à tona uma questão que até então não estava posta de forma clara. Os limites geográficos de trabalho, condicionados ao espaço físico das empresas, não mais existem.
A tecnologia que alavancou todo esse avanço nos diversos setores da economia exigiu de seus subsegmentos (infraestrutura, desenvolvimento, nuvem, inteligência artificial [...]) produtividade, criatividade, entrega e, principalmente nos primeiros meses de distanciamento, muitas horas extras.
O trabalho árduo foi recompensado mais tarde com a certeza de que a carreira de TI ganhou grande expressão, deixando de ser vista por parte das empresas como suporte operacional, passando ao nível estratégico do negócio.
Mas onde entra a parte preocupante, você pode estar se perguntando?
Numa análise do cenário atual e para o próximo ano, a necessidade das empresas em criar, manter e melhorar seus canais digitais já está nos levando ao que podemos considerar como uma nova busca pelo “ouro”.
Profissionais de TI, que até então residiam em suas cidades e trabalhavam em suas empresas locais, agora podem trabalhar em qualquer organização, de qualquer cidade, em qualquer país do mundo.
O desenvolvedor, que até então oferecia sua mão de obra a pequena empresa local, agora está criando ou mantendo soluções em grandes players nacionais ou multinacionais. Esse êxodo irá nos levar, muito em breve, a um abismo na mão de obra dos profissionais de TI para atender a demandas das empresas locais.
A disparidade salarial entre as regiões, a desvalorização da nossa moeda, a limitação do pequeno empresário, o acesso ao trabalho com tecnologias de ponta e possibilidades de desenvolver suas habilidades sem limites atraem os profissionais a procurarem migrar.
Por outro lado, já cientes desse caminho sem volta, grandes empresas, dependentes dessa mão de obra, estão se antecedendo ao caos e tentando criar mecanismos para blindar suas equipes com benefícios e diferentes estratégias, pois todas sabem que isso trará impacto direto em sua sobrevivência.
Importante registrar que isso não está restrito à carreira de profissionais de tecnologia da informação. Empresas especializadas em terceirização, atentas ao provável e já iminente apagão de mão de obra especializada, adiantam-se na criação de pools de profissionais.
O cenário, a curto e médio prazo, apresenta-se como grave escassez de mão de obra em áreas especificas, dependentes de conhecimento ligado a uma virtualidade para a qual ainda não estamos preparados.
Pequenas empresas sofrerão com a competição com as grandes empresas na disputa por profissionais de alta performance e capacidade de inovação. A escassez de profissionais especializados com capacidade e dedicação direcionadas aos novos formatos empresariais altamente virtuais será o maior desafio da atualidade.
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Gestores e empresários que não se anteciparem, formando quadros próprios com remuneração e condições de trabalho que valorizem o colaborador, correm o risco de sofrer com baixa qualificação profissional que poderá colocar em risco seus negócios.
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