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É jornalista e mestre em Ciência Política. Pós-graduada em Comunicação e Marketing Digital

Dos tecnocratas aos 'tiktokratas': a política na era da economia de atenção

Como apresentar propostas de transformação social no dia a dia do brasileiro em vídeos tão curtos das redes sociais?

  • Nadine Silva Alves É jornalista e mestre em Ciência Política. Pós-graduada em Comunicação e Marketing Digital
Publicado em 05/11/2024 às 15h40

Dentro dos inúmeros termos existentes na ciência política, que buscam explicar fenômenos, figuras e situações do universo político, encontramos o conceito de "tecnocrata". Em suma, é o político que procura soluções técnicas ou racionais para os problemas da sociedade. No entanto, a ciência política precisa se atualizar periodicamente para acompanhar as novas gerações.

Essa aceleração da vida pode ser atribuída ao fato de que, paradoxalmente, no século em que muitos tentam retardar o envelhecimento por meio de procedimentos estéticos, estamos cada vez mais acelerando os mecanismos das nossas tarefas diárias. Mas este texto não é para discutir estética.

Escrevo com a pergunta que tem manifestado há anos, e a cada eleição ressoa mais alto, que é como lidar com a comunicação política dentro das redes sociais. E deixo aqui uma pergunta: quem ainda escuta os áudios de mensagens na velocidade normal? Ou assiste a vídeos de tutoriais na velocidade padrão? E não há resposta certa ou errada, mas sim uma indagação para explicar aonde quero chegar.

Ao pesquisar sobre nosso nível de concentração, encontramos uma série de estudos que indicam uma queda significativa na atenção em menos de uma década. Um relatório da Microsoft, intitulado "Attention Spans", revela que, em média, a atenção dos usuários em tarefas digitais dura cerca de 8 segundos, inferior ao que era há 12 anos. Esse dado destaca o impacto da dependência de dispositivos eletrônicos na capacidade de concentração.

Neste momento, se sua atenção se manteve além dos 8 segundos neste texto, convido-o a refletir sobre como os políticos e suas equipes de comunicação e marketing podem criar conteúdos que dialoguem com a cidade, abordando problemas e soluções em segundos. Eu não tenho a resposta. Profissionais da área buscam inovar para que a comunicação se converta em votos.

A política está inserida nos scrolls dos celulares é preciso que o conteúdo cative. A tarefa em si não é difícil. O problema é o conteúdo. Existe a frase “não há soluções simples para problemas complexos”, e concordo. Como apresentar propostas de transformação social para o brasileiro em vídeos tão curtos das redes sociais?

Se antes os políticos precisavam ser tecnocratas, agora eles precisam se tornar "tiktokratas". Esse termo é uma invenção minha, inspirada na observação de que a habilidade de comunicar é essencial. E, por isso, há uma nova versão de políticos, os dispostos a reinar, ou melhor, viralizar, no TikTok e reels de Instagram.

Portanto, qualquer político — seja de esquerda, centro ou direita, na América Latina, Europa, América do Norte, África ou Oriente — que leve ao palanque discussões tradicionais sobre cidade, projetos ou ideologias, mas sem carisma, terá pouca chance de engajar o público.

Facebook, Instagram, WhatsApp, TikTok, Twitter: redes sociais
Facebook, Instagram, WhatsApp, TikTok, Twitter: redes sociais. Crédito: Divulgação

Atualmente, não basta apenas participar de debates e expor ideias e projetos; é crucial engajar e envolver o eleitor em seu discurso. A direita tem se destacado nesse aspecto, conseguindo dialogar com emoção. A política envolve razão, mas também o sentimento.

Não é suficiente ser "do povo", o populista que movimenta as massas; agora, é essencial captar a atenção em segundos. É preciso ser um "tiktokrata" — gravar e postar para mobilizar.

Certo ou errado? Não me atrevo a opinar. Acredito que, no ponto em que nos encontramos, voltar não é uma opção. As ferramentas digitais estão presentes em nosso cotidiano e precisamos aprender a lidar com elas. O desafio está lançado. Pesquisas devem ser desenvolvidas nesse sentido. Como mencionei, inventei o termo, e agora os estudos na área política precisam descobrir como incluir nos estudos para dar conta deste novo fenômeno.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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