O alerta não é inédito, mas é sempre muito importante, em especial nesta época do ano, quando a temporada de verão se anuncia. Em cidades como Vitória, onde as pessoas demonstram preocupação excessiva com a aparência e se dedicam, incansavelmente, a buscar um corpo em excelente forma para exibi-lo em cenários outdoor como o calçadão de Camburi, as praias e as baladas, é importante chamar a atenção de todos para o “lado B” da beleza.
Neste espaço, entendemos ser fundamental traçar uma linha imaginária que imponha um limite na busca essencialmente estética, passando a reagir às influências e padrões que a sociedade nos impõe.
Traçar esse paralelo é muito importante. Isso porque vivemos numa cultura que incentiva a busca do "corpo perfeito" e nos faz acreditar que nossos valores estão diretamente ligados à aparência do nosso corpo físico. Um estereotipado padrão da beleza, em especial o feminino, que prega que, se formos saradas, seremos bonitas, seremos “cool” e, assim, seremos aceitas.
Apesar de, em outras épocas, o modelo de beleza feminina já ter sido bem diferente do atual – há algumas décadas, por exemplo, se valorizava a beleza das mulheres voluptuosas com quadris largos e seios fartos, tipo Marilyn Monroe –, hoje existe uma intensa cobrança para alcançar como ideal o corpo magro. E são muitas as que seguem obcecadas pela forma física, apesar dos sérios prejuízos que esta busca pode trazer aos seus corpos e almas.
E se antes eram as capas de revista que apontavam o padrão a ser conquistado, hoje, quando já quase não existem mais as bancas onde se compravam as publicações, a tirana tendência chega instantaneamente a todas nós pelas telas dos celulares, tablets e computadores, onde exemplos de corpos perfeitos estão estampados o tempo inteiro.
Como dizia o famoso texto "Use filtro solar", que circula pela internet: "não compre revistas de beleza, elas só vão te fazer pensar no quanto você é feio". Precisamos enxergar que estamos cercados por mensagens prejudiciais e fatores de riscos por todos os lados, e que juntos e misturados, como uma receita de bolo, eles podem nos levar a um transtorno mental, em especial o alimentar, já que são multifatoriais.
Diariamente atendo pessoas em consulta que se dizem insatisfeitas com seus corpos por não se encaixarem no padrão cultural aceito de beleza (leia-se manequim 38, barriga sarada, rosto sem rugas...). Sofrimento, angústia, culpa, baixa autoestima são os sintomas e sentimentos mais comuns entre elas. Fora os casos das mulheres diagnosticadas com transtorno alimentar, em constante sofrimento por não alcançarem o corpo preconizado pela mídia ou pelos grupos das amigas, da academia...
Importante ressaltar que não há problema em querer emagrecer ou aperfeiçoar a própria aparência, mas há que se ter um limite na busca da beleza. A forma, muitas vezes prejudicial, com que se faz essa busca, pode nos levar a uma briga eterna com a própria aparência, com consequências muitas vezes irreparáveis.
Desconstruir as regras sociais, entender e aceitar que o padrão cultural de beleza que a sociedade nos impõe não é a única opção não é fácil. Crescemos aprendendo que existe uma linha de chegada para alcançar o corpo ideal. Nossas bonecas Barbie já nos mostram isso desde muito pequenas. Por isso, é preciso aprender a desconstruir esse modelo inatingível que a cultura nos ensina. É fundamental sabermos que cada um tem uma beleza única, que vaidade não é escravidão. Ser bonita, sim, mas cada um ao seu modo e estilo. E não se esqueçam: alegria, equilíbrio, saúde, bom senso e dignidade devem, sempre, estar presentes na cesta de beleza de todas as mulheres.
A autora é psicóloga e especialista em saúde
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