Em um mundo cada vez mais conectado, onde a tecnologia permeia todos os aspectos da vida, a educação enfrenta novos desafios e oportunidades. As crianças, nativas digitais, trazem consigo uma bagagem de conhecimentos e habilidades adquiridas na imersão nesse universo virtual. Para acompanhá-las nessa jornada de aprendizagem, as escolas precisam se reinventar, abandonando modelos tradicionais e abraçando a era digital.
Como resultado das transformações tecnológicas, as crianças passaram a interagir culturalmente e socialmente em um ambiente digital, o que gerou uma mudança, tanto na concepção de infância, quanto no modelo educacional, que passou a focar o processo de aprendizagem a partir do multiletramento. Isso significa que, desde muito cedo, as crianças têm acesso a esses recursos, com variações distintas de compreensão, no cenário familiar, do que seja um controle cuidadoso na sua utilização.
Essa realidade torna-se mais sensível ao se constatar que grande parte das crianças utilizam de alguma tela por um período de tempo inadequado à sua faixa etária, possibilitando um acesso a diversos conteúdos. Em muitos casos, isso acontece longe do acompanhamento do adulto e sem o estabelecimento de regras, o que determina uma maior vulnerabilidade das crianças aos riscos existentes no ambiente virtual.
Realizada desde 2012, a TIC Kids Online Brasil gera, através de suas pesquisas, indicadores e evidências a respeito do uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil. Em sua última edição, lançada no segundo semestre de 2023, uma das principais conclusões foi justamente a antecipação do primeiro acesso à Internet, que passou a ser utilizada ainda na primeira infância. Dessa realidade, cresce em conjunto o índice de crianças que apresentam uso problemático das mídias, dependência digital, mudanças comportamentais e fragilidades emocionais.
Porém, seja na esfera escolar, seja na familiar, uma vez instruídos corretamente, os recursos tecnológicos apresentam uma gama de benefícios pedagógicos para o desenvolvimento infantil. É notável que muitas metodologias de ensino ainda estão fundamentadas em modelos tradicionais, o que pode não ser eficaz para atrair e engajar os alunos de hoje. Para despertar o interesse pela aprendizagem, é essencial que as instituições educacionais estejam alinhadas com as expectativas e necessidades das crianças em relação às tecnologias.
Relacionado a isso, apresentam-se relevantes as indicações trazidas pela Sociedade Brasileira de Pediatria no que interessa à necessidade de um trabalho de conscientização junto às famílias, assim como as diretrizes presentes na Base Nacional Comum Curricular, para a inserção das tecnologias nos espaços de Educação Infantil.
Desde que bem utilizadas, elas podem contribuir no processo de aprendizagem das crianças, principalmente no domínio da linguagem oral e escrita, favorecendo a percepção do sistema alfabético e possibilitando a iniciação do processo de alfabetização a partir dos multiletramentos que já estão disponíveis às crianças no acesso que fazem cotidianamente às telas.
Em equivalência, o reforço na formação docente, de modo a favorecer a sensibilização e inserção tecnológica, é ponto central para a efetivação de propostas pedagógicas inovadoras e que aproximem o ambiente escolar da vivência digital das crianças.
A partir disso, é essencial que a educação siga um cenário de constante reflexão, aliando a forma lúdica de trabalhar com as ferramentas de ensino criadas ao bom preparo do professor para a utilização delas, sempre adaptando-se à realidade de seus alunos.
A escola necessita estar apta a concretizar, por meio de inovação, criatividade e tecnologias, meios de levar aos alunos da educação infantil novas formas necessárias de concepção de aprendizado, sobressaindo-se bem aos obstáculos impostos por uma geração cuja realidade encontra-se ainda em plena transformação.
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