Querido leitor, dia 6 de outubro temos mais uma chance de celebrar a democracia elegendo nossos prefeitos e vereadores. Com nosso voto podemos exercer nossa capacidade de escolha e de, mais uma vez, lembrar que “voto não tem preço, tem consequências”.
Vale lembrá-lo que a Constituição de 1988 prevê, em seu artigo 14, que a soberania popular será exercida pelo voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Ou seja, embora o voto tenha valor importantíssimo, a verdadeira cidadania não pode ser reduzida apenas às eleições de dois em dois anos. Ser cidadão significa participar ativamente dos rumos de nossas cidades.
Creio que irá concordar comigo que, atualmente, de forma muito equivocada, reduzimos a cidadania a uma participação política que se restringe aos mecanismos da representação, ou seja, do simples votar e ponto final. Nesse jeito de pensar, atribuímos apenas aos políticos “profissionais” os rumos da cidade para que nós, livres dessa obrigação, tenhamos tempo suficiente apenas para nossos interesses privados.
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Precisamos resgatar essa participação como uma tarefa ética e política na construção de uma cidadania que beneficie e resgate a ideia de bem comum. Uma vez escolhendo-o, estamos igualmente escolhendo o nosso próprio bem.
Você deve estar se perguntando: “Mas como podemos criar essa consciência na sociedade, querido autor?” De fato, essa é uma excelente questão, caro leitor. Uma possível resposta podemos encontrar no pensamento de Rousseau. Esse filósofo nos orienta que essa forma de compreender a virtude política apenas pode ser promovida pela educação e, portanto, “não é suficiente dizer aos cidadãos: ‘sejam bons’. É preciso ensinar-lhes a sê-lo.” Logo, cidadão é todo aquele que compreende a virtude cívica como uma capacidade de agir tendo em vista o bem comum mesmo quando esse bem esteja em oposição aos seus interesses individuais.
Uma pena que grande parte dos debates nessas eleições nas redes sociais não abandone a arena das paixões e da superficialidade dos problemas de nossos municípios. O excesso de informação, fake news, discursos de ódio e a polarização tem levado muitos a questionarem o valor da democracia, cujo regime está em crise em grande parte do mundo.
Vale ressaltar, mesmo a título de curiosidade, que o termo crise é de origem médica, cunhado por Hipócrates para designar uma transformação decisiva que ocorre no pico de uma doença e orienta o seu curso em sentido favorável ou não. Por isso, a resposta está em suas mãos, ou melhor, nas urnas.
Sobre a escolha dos nossos representantes, há uma passagem no livro de Juízes (9,7-15) que ilustra bem quando o povo não possui prudência na escolha de seus representantes. Na passagem, as árvores queriam eleger um rei. A oliveira não aceita o convite, pois queria continuar fazendo seu azeite; a figueira também recusa e prefere permanecer produzindo seu fruto saboroso.
Em seguida, pediram a videira e ela igualmente prefere seguir na produção do seu vinho que alegra os homens. Por fim, sem opções de um bom rei, as árvores convidam o espinheiro que prontamente aceita e diz: “Venham e se abriguem debaixo da minha sombra. Senão sairá fogo do espinheiro e devorará os cedros do Líbano” (v.15). Nesse sentido, do mesmo modo Platão já nos alertava: “O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”.
A beleza do “jardim da política” depende do solo na qual está fincada. Que essa nossa participação seja algo que impulsione o crescimento das rosas da liberdade, da igualdade e da pluralidade entre nós. As escolhas humanas são como sementes e a qualidade dos frutos políticos do amanhã dependerá e será resultado do que semeamos hoje.
Apesar de atravessarmos uma grave crise política, ética e econômica, precisamos acreditar que o amanhã é um lugar onde tudo será melhor. Portanto, que o nosso voto nutra nosso povo e nossas cidades de sonhos, porque certamente entre nós a esperança sempre pode mais que o medo (Hannah Arendt).
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