Sou negro. Faço parte do seleto grupo de pessoas negras que conquistaram cargos executivos em grandes corporações. E, estando em uma das maiores delas, a ArcelorMittal, além das minhas funções executivas, atuo na coordenação do Grupo de Diversidade Racial, um dos quatro grupos de afinidade responsáveis por traçar estratégias para que nossa empresa seja mais inclusiva (os demais são os grupos LGBTI+, de Equidade de Gênero e de Pessoa com Deficiência).
O fato de ser negro faz com que eu sinta na pele as dificuldades que enfrentamos no dia a dia, numa sociedade que discrimina, segrega e pratica violência contra os negros. Mesmo tendo consciência de que o colorismo me “beneficiou” em alguns momentos, ele não foi suficiente para evitar constrangimentos e dificuldades ao longo da minha vida.
A educação foi e continua sendo a mola propulsora da transformação da minha vida, e tem me permitido um legado de respeito ao próximo e conscientização. Como bem disse Angela Davis (ativista norte-americana pelos direitos das mulheres e contra a discriminação racial, que se notabilizou por sua luta nos anos 70), “numa sociedade racista não basta não ser racista, é necessário ser antirracista".
No Brasil, por avaliação empírica, podemos afirmar com relativa segurança que pessoas que se dizem racistas são a minoria da população. No entanto, os números das pesquisas sobre condições sociais, econômicas e de exposição à violência categorizada por cor da pele mostram que ainda vivemos em um país estruturalmente racista.
Analisemos juntos dois números: o primeiro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE e o segundo, do Instituto Ethos, sobre diversidade nas empresas. No Brasil, 56% da população brasileira se identificam como pretos ou pardos. Porém, nos cargos executivos das 500 maiores empresas do país, apenas 4,7% estão preenchidos por negros ou pardos.
Precisamos começar a pensar no que disse Angela Davis. Se vivemos em um país estruturalmente racista, precisamos ser antirracistas. E a ação é responsabilidade de cada um de nós, em casa, nas escolas, no trabalho, na vida comunitária e na política. No ambiente corporativo, no qual estou inserido e para o qual direciono grande parte das minhas energias e do meu tempo, essa realidade também precisa mudar por meio de ações inteligentes e coordenadas de combate ao racismo estrutural.
Passado pouco mais de um ano da criação do Grupo de Diversidade Racial, a alta direção da empresa assina, neste dia 20, coincidindo com o Dia da Consciência Negra, o termo de adesão à Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, um fórum de troca de experiências e de promoção da diversidade nas empresas. Com esta adesão nos comprometeremos, agora perante a sociedade, a promover a diversidade e a equidade racial internamente e a engajar empresas, poder público e sociedade civil para, juntos, promovermos políticas e ações inclusivas.
Iniciativas como essa união de empresas contrárias ao racismo mostram que uma grande onda está se levantando contra a discriminação em nosso país. Pois olhem ao redor e busquem espaço para participar dessa luta.
Que no Dia da Consciência Negra de 2021, tenhamos caminhado mais em direção a atitudes de pessoas e empresas contra o racismo estrutural que nos atinge.
O autor é vice-presidente de Operações de Aços Planos da ArcelorMittal Brasil
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