A cada temporada de chuvas, são mais recorrentes os episódios de destruição e caos que atingem diferentes regiões do país e do Espírito Santo. É difícil calcular o resultado de tamanhos prejuízos, materiais e humanos, que afetam campos e cidades. Os estragos, embora superados em boa parte das vezes, marcam a vida de muitos.
E, a cada ano, as chuvas fortes e de volume inesperado voltam a ocorrer e o cenário se repete: rios transbordam, ruas alagam, deslizamentos de terra ocorrem, pessoas perdem seus bens, outras perdem a vida e quem fica precisa juntar o pouco (ou nada) que restou e recomeçar.
Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS) compilados pelo jornal O Globo, 2.572 pessoas morreram devido a inundações no País de 1996 a 2016. No Espírito Santo, no início de 2021, quando mal completou um ano das enchentes que afetaram o Sul do Estado, especialmente o município de Iconha, muitos capixabas voltam a sofrer com o mesmo problema.
Diversos fatores influenciam a ocorrência de enchentes, mas a ação do homem é o que, sem dúvidas, mais agrava os impactos. Desmatamento de áreas verdes, descuido das bacias dos rios e ocupações desordenadas figuram na lista de agentes que, somados, ajudam a provocar tais tragédias. Algumas ações podem e devem ser adotadas e ampliadas para se ter uma melhor convivência diante dos riscos desses cenários extremos. Exemplo disso são os programas com foco no reflorestamento e combate ao desmatamento ilegal.
A atuação do poder público, por meio de um planejamento urbano eficiente, também é essencial, pois sinaliza quanto às áreas mais afetadas por esses eventos.
Levando em consideração que cada região apresenta necessidades específicas, é importante mapear tais demandas e providenciar as ações necessárias, como obras de macrodrenagem, reflorestamento da bacia hidrográfica, planejamento urbano para coibir ocupação de áreas de risco, elaboração e execução de um Plano Municipal de Contingência para Desastre e Emergência, entre outras providências.
É importante lembrar, no entanto, que a eficiência dessas ações também vai depender da consciência ambiental dos cidadãos. O descarte irregular de lixo, por exemplo, provoca o entupimento dos bueiros. Em muitos casos, as inundações poderiam ser amenizadas ou até evitadas se bocas de lobo não estivessem obstruídas por lixo.
Se não é válido apontar apenas um responsável, tampouco vale culpar a natureza. Prevenir é a melhor forma de evitar tragédias. Desastres naturais não existem! A nossa vulnerabilidade aos eventos naturais extremos é que possibilita tamanhas perdas.
O autor é engenheiro ambiental e especialista em gestão de riscos
* Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta
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