O título do livro clássico de Harper Lee, "O sol é para todos", ganhador do Pulitzer e de três estatuetas do Oscar em sua adaptação para o cinema no início da década de 60, além de estimular a reflexão sobre temas que, infelizmente, seguem atuais como racismo e diferenças de oportunidade, também se presta a uma outra discussão fundamental em nossos dias: as fontes de energia, a sustentabilidade e o desenvolvimento.
Especialmente num país com as características climáticas e geográficas do Brasil, o sol é – ou deveria ser – realmente para todos, também no sentido da geração limpa e sustentável de energia.
Temos, é claro, muitos avanços a celebrar: o Brasil ocupa, pela primeira vez, a lista dos dez países com maior potência instalada acumulada de fonte solar fotovoltaica, ficando em oitavo lugar no mundo.
Isso porque, no final de 2022, alcançamos a marca de 24 gigawatts (GW) de potência operacional solar, considerando a somatória das grandes usinas solares e de sistemas de geração própria solar de pequeno e médio portes, instalados em telhados e fachadas de edifícios, por exemplo, além de pequenos terrenos.
O número representa 11,2% da matriz energética do Brasil, ocupando a segunda colocação geral no ranking que aponta a origem da energia que consumimos no país, pouco à frente, também pela primeira vez, do percentual relacionado à energia eólica.
Esses mesmos números que nos trazem otimismo também demonstram o quanto podemos crescer. E o potencial de crescimento fica ainda mais nítido ao se observar dados referentes à geração de energia solar fotovoltaica em países como o Japão.
Para se ter ideia, dentro do Brasil, caberiam 22,5 países do tamanho do Japão, que é o terceiro do mundo em geração de energia solar, com potência instalada de 78,8GW contra os nossos 24GW. Ou seja, há, literalmente, muito espaço para crescer.
O desafio que temos, nesse sentido, enquanto governos, empresas e sociedade, é olhar a questão da ampliação da oferta de energia solar fotovoltaica de forma séria, ampla e multidimensional.
Um ponto importante é entender que produtividade e sustentabilidade podem e devem andar juntos. Há muito esforço - e muito avanço - para tornar processos de instalação, produção e assistência mais eficientes e assertivos.
Outra questão é que a pauta de ESG assume cada vez mais importância estratégica dentro dos negócios, tendo relação direta com competitividade, reputação, engajamento da marca e resultados diretos. O planeta é um só e não é mais aceitável não levar isso em conta.
Além disso, a questão da sustentabilidade vai além do aspecto ambiental. A energia solar é renovável e a redução nos valores gastos com energia elétrica podem chegar a 95%, aliviando orçamentos tanto domésticos quanto as cifras de um dos principais custos operacionais das empresas.
Vale ressaltar ainda que o investimento necessário para a instalação de uma estrutura de produção de energia solar que, no passado, poderia ser considerado um entrave, vem caindo de forma significativa. Estudo global da Deloitte demonstra que o preço de um típico módulo solar fotovoltaico sofreu redução de 77% na última década.
Há também argumentos importantes na macroeconomia. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a fonte solar já trouxe ao Brasil cerca de R$ 103 bilhões em novos investimentos, mais de R$ 27,2 bilhões em arrecadação aos cofres públicos e gerou mais de 780 mil empregos acumulados desde 2012.
São dados significativos para provocar a reflexão e nos levar a unir forças para que o sol realmente seja para todos, nos mais diversos aspectos. Assim, estaremos contribuindo para aplacar questões sérias e indispensáveis para o nosso desenvolvimento enquanto país e sociedade, a exemplo de como fizeram a menina Scout e seu pai, o advogado Atticus, personagens da obra clássica e premiada.
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