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É doutora em Arquitetura e Urbanismo, especialista em paisagem e ambiente

Entenda a riqueza ecológica e social dos mangues da Baía de Vitória

Da floresta de mangue, advém uma multiplicidade de manejos e símbolos culturais associados, tais como a panela de barro, a cata do caranguejo e a prática das desfiadeiras de siri

  • Isabella Batalha Muniz Barbosa É doutora em Arquitetura e Urbanismo, especialista em paisagem e ambiente
Publicado em 04/08/2024 às 10h00
Manguezal Maria Ortiz, Vitória
Manguezal em Maria Ortiz, Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

Mangue, palavra de origem inglesa denominada “mangrove”, que significa árvore de raiz, e que forma um pequeno bosque, o que remete tanto às espécies como à comunidade envolvida. O mangue é um tipo de vegetação costeira estuarina que se desenvolve nas regiões intertropicais, sendo facilmente identificado, seja pela sua localização às margens de estuários, baías e enseadas, seja acompanhando os rios pelo continente adentro.

O mangue, restrito a meios salobros, possui adaptações especiais que possibilitam seu desenvolvimento ante as condições adversas e funcionam ainda como barreiras naturais contra os mecanismos da erosão provocados pela ação das marés, além de reterem, entre suas raízes, sedimentos carreados pelos rios.

Além da função ecossistêmica, o mangue tem uma importante relevância social, pois além de ser uma fonte de alimentos e berço para reprodução de inúmeras espécies animais e vegetais, pode gerar renda para uma grande parcela da população carente que vive às suas margens.

A cobertura vegetal de manguezal ao longo do litoral do Espirito Santo foi estimada em 36 km², sendo que 18 km² na Baía de Vitória (Vale e Ferreira, 1998). O município de Vitória ainda detém a maior área de manguezais do Espírito Santo, com aproximadamente 11,38 km², com destaque para a Reserva Ecológica Ilha do Lameirão (lei municipal nº 3377/1986), com aproximadamente 10 km² de extensão.

Portanto, toda a parte interior da Baía de Vitória é constituída por exuberante vegetação de mangue que recobre a região noroeste do município de Vitória, e nas proximidades do Rio Santa Maria, em Cariacica.

A Rhizophora mangle é uma das espécies vegetais mais representativas, cujas raízes crescem perpendicularmente ao tronco, permitindo que esta espécie se desenvolva em terrenos alagadiços, de onde se extrai o tanino, importante elemento para confecção da panela de barro, uma tradição centenária capixaba.

Da variedade de espécies animais, o caranguejo é o mais expressivo, seguido pelo sururu, além das diversas aves que nidificam nas árvores. Da floresta de mangue, advém uma multiplicidade de manejos e símbolos culturais associados, tais como, a panela de barro, a cata do caranguejo e a prática das desfiadeiras de siri, cujas atividades são geradoras de renda para as populações ali residentes. Nesse contexto, destaca-se a Ilha das Caieiras, ícone dessa representação social do mangue.

Matéria especial para semana do meio ambiente, manguezal na região de Maria Ortiz, em Vitória
Manguezal na região de Maria Ortiz, em Vitória. Crédito: Fernando Madeira

Portanto, o mangue é um ecossistema com uma diversidade ecológica e cultural ríquíssima, mas mesmo com todas essas características excepcionais, historicamente, o mangue foi tido como proscrito, e associado à proliferação de doenças pela política sanitarista, especialmente no final século XIX até o séc. XX, com a urbanização.

Nessa perspectiva, grandes áreas de mangue foram devastadas para dar lugar à urbanização crescente nas cidades brasileiras. Nas últimas décadas, os mangues passaram a ser mais valorizados, a partir de uma ampla legislação ambiental e urbanística que os protegem, resgatando sua relevância ecossistêmica e paisagística.

Que a sociedade e, em especial, as novas gerações, tenham cada vez mais conhecimento e respeito a este importante ecossistema, a partir de políticas efetivas de educação ambiental e de gestão em todas as dimensões e escalas federativas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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