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É geriatra e conselheiro especial técnico-científico da MedSênior

Entenda por que saúde e doenças não são incompatíveis

Uma pessoa com uma ou mais doenças bem diagnosticadas e tratadas tem plenas condições de ser saudável, em qualquer idade

  • Wilson Jacob Filho É geriatra e conselheiro especial técnico-científico da MedSênior
Publicado em 19/11/2024 às 15h48

Vivemos, nas últimas décadas, tanto no Brasil como no mundo, um processo de envelhecimento populacional que torna necessário olhar atentamente para temas como saúde, autonomia e independência das pessoas idosas, visto que nunca tivemos, na história, tanta chance de envelhecer.

Mas isso só será uma boa notícia se conseguirmos bem envelhecer.

Mas, afinal, o que isso realmente significa?

Desde sempre, a saúde e as doenças foram entendidas como estados antagônicos, tomando como verdade a ideia de que a presença de uma depende da ausência do outro.

Felizmente, isso não é verdade.

Desde 1947, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “o estado de pleno bem-estar físico, psíquico e social". À luz dessa abordagem tão mais ampla e menos limitante, entendemos que a saúde, em verdade, não depende da inexistência de doenças e vai muito além dessa condição.

Em síntese, uma pessoa com uma ou mais doenças bem diagnosticadas e tratadas tem plenas condições de ser saudável, em qualquer idade.

É isso que encontramos na maioria dos idosos sadios com quem convivemos em proporção cada vez maior. Não são saudáveis porque não têm enfermidades. Pelo contrário, aos 80 anos ou mais, somam-se 3 ou mais diagnósticos em média, que devidamente tratados, com os hábitos de vida e os medicamentos corretamente prescritos, quando utilizados adequadamente, permitem o estado de saúde referido pela OMS.

Um ótimo exercício de imaginação será o de identificar qual é o octogenário que gostaríamos de ser. Certamente escolheremos aquele que mantém sua autonomia e independência, reconhece suas limitações e lida bem com elas, participa ativamente da comunidade na qual está incluído, tem planos para o futuro, enfim, goza do "pleno estado de bem-estar físico psíquico e social".

Idosos
Idosos com qualidade de vida. Crédito: Shutterstock

Impossível imaginar que isso não possa ocorrer só porque teremos uma ou mais doenças diagnosticadas, já que, desde que bem cuidadas, o bem envelhecer é perfeitamente factível.

O que não pode ser esquecido, nesta trajetória, é a manutenção do protagonismo de quem envelhece. As opiniões e suas justificativas devem ser expressas em todos os ambientes de convivência. Aquele que delega a outros aquilo que pode fazer, abre mão de sua identidade.

Por outro lado, há a constante percepção de que ninguém faz nada sozinho. Solicitar e aceitar ajuda das pessoas em quem confiamos é de fundamental importância para a construção da nossa rede de suporte social, tão mais protetiva quanto mais diversificada.

Com essa combinação de protagonismo com um bom elenco de parceiros de vida, é possível nos imaginarmos dirigindo os negócios ou o veículo, utilizando telefone celular para agendar consultas médicas, ou conectados às redes sociais, fazendo os exercícios e dieta recomendados, além do uso dos medicamentos prescritos.

Quando uma ou mais dessas funções não puder ser executada adequadamente, haverá quem possa fazê-lo, visto ter sido cultivada uma boa rede social aliada à nossa concordância com essa colaboração.

Nesse sentido, vale uma ressalva: a limitação não é uma exclusividade da vida do idoso. Ao longo de todas as fases da vida, em muitos momentos, somos convocados, de uma forma ou de outra, a reconhecer e aceitar nossos próprios limites como forma de garantir uma vida mais saudável física e emocionalmente, e até como forma de exercer a cidadania e zelar pela coletividade e pelo bem-estar social.

Se alguma questão pessoal, temporária ou não, prejudica minha capacidade de dirigir, por exemplo, preciso ter a atitude responsável de não me colocar e nem submeter o outro ao risco.

Trata-se de saber adequar relações de custo-benefício favoráveis às expectativas e possibilidades, com apoio de médicos, familiares e pessoas escolhidas para auxiliar e orientar.

E essa será a melhor opção, se não a única, para transformar esta crescente expectativa de vida em real benefício ao indivíduo e à sociedade.

Chega de temer e combater o envelhecimento.

A luta real, efetiva e eficaz é aquela que travaremos contra as doenças, seus determinantes e suas consequências nos âmbitos físicos, psíquicos e sociais, visando a promoção do envelhecimento saudável.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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