Heliomar Venâncio*
As imagens são impactantes: fortes ondas invadindo o litoral capixaba, levando tudo o que viam pela frente. Essas cenas que impressionam e assustam a população aconteceram este mês na praia de Meaípe, em Guarapari, onde faixas de areia sumiram, calçadões e ciclovias foram arrancados e até construções na costa foram engolidas; tudo isso sem contar a rodovia ES 060 que teve um trecho arrancado.
Após o susto, é necessário refletir: a culpa desse caos é exclusiva do mau tempo e do forte movimento das marés? De certo que a resposta é bem mais complexa e leva em consideração outros fatores, além das condições do clima e do vento.
Nesta equação, com certeza, entra o desenho urbano do litoral espírito-santense que foi muito mal planejado, e pior, engoliu com ocupações a faixa de areia que era a segurança da nossa linda costa azul e que impedia a invasão das águas oceânicas.
Após a década de 1960, o avanço urbanístico de balneários capixabas em direção ao mar fez da vegetação de restinga, que era uma barreira natural das praias, sua primeira vítima. A flora litorânea foi suprimida de forma devastadora, permitindo com que a areia avançasse nas pistas com os ventos. Como diria a amiga bióloga Angelita Zanotti, os ramos e raízes da restinga são os cabelos do mar, sem eles a areia da praia não tem onde se firmar e avança desordenadamente.
Piúma, Anchieta, Meaípe, Ponta da Fruta, dentre outras localidades, são alguns exemplos causados pelo mau uso do traçado urbano pelos gestores públicos, que causaram uma devastação no nosso litoral. Agora, a população vem pagando um alto preço pelas décadas de falta de planejamento urbano.
Uma nova visão ou redesenho urbano baseado em estudos técnicos pode minimizar impactos marinhos futuros. O foco no planejamento, com ajuste nos traçados existentes, respeito aos limites marinhos e, principalmente, cuidados especiais com as novas implantações no tecido urbano de nosso litoral, apresenta-se como um dos caminhos para a solução para este complicado problema ambiental. Neste sentido, é fundamental um esforço em conjunto da população, técnicos e gestores públicos. Antes tarde do que nunca, é preciso aprender com os erros.
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*O autor é conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES)
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