O aumento da bandeira vermelha pegou a todos de surpresa na semana passada, como se já não bastassem os aumentos tidos em nossa economia, que estão determinando, e com força, um ciclo altista do nível geral de preços. Um dos exemplos é o IGP-M, que está num patamar médio, para 12 meses, inconcebível se comparado com o IPCA, que é o índice de preços oficial do governo.
No último dia 29, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou reajuste de 52% para a bandeira vermelha 2, que passou de uma cobrança extra de R$ 6,24 para R$ 9,49 por cada 100 kWh consumidos. O sistema de bandeiras criados pelo governo funciona como um gatilho, ou seja, na medida que se acirra a escassez hídrica, o governo aciona o sistema de bandeiras. O objetivo é informar aos consumidores quando o custo aumenta, e, dessa forma, criar um mecanismo forçado de redução do consumo, pois evita que se pague conta de luz mais cara.
Do ponto de vista prático, o que acontece é que, quando os reservatórios das usinas hidrelétricas ficam baixos, é imperioso o acionamento das várias usinas termelétricas para garantir o fornecimento de energia. Portanto, é um gasto que o consumidor pode controlar em relação ao seu consumo doméstico, mas esse tipo de aumento, quando repassado para o sistema de custo dos serviços e produtos, não há como evitar o seu impacto no orçamento das famílias.
Esse aumento de 52% se traduzirá num impacto médio 4,9% nas contas residenciais, portanto é importante que se faça o máximo possível economia no consumo de energia elétrica.
Quanto à matriz energética brasileira, aproximadamente 43% da produção de energia é proveniente de fontes de energia renováveis, sendo elas as energias eólica, hidráulica, solar e de biomassa. Da energia elétrica produzida no Brasil, 75% provêm das usinas hidrelétricas, portanto, se houver uma escassez mais prolongada, poderemos ter um colapso no tecido econômico com graves consequências no tecido social.
Nos últimos 30 anos, a reconfiguração dessa matriz energética foi desprezada pela elite política do país, que teve como única preocupação a aplicação de modelos populistas baseados no consumo. Portanto, por desprezo, falta de visão, corrupção e outros agravantes, a verdade é que não priorizamos o investimento nesse setor, mesmo com a severa crise hídrica ocorrida no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
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Por fim, enquanto a preocupação com o aumento da tarifa é séria, mas é de curto prazo, a preocupação com a matriz energética deve ser de longo prazo e é seríssima, pois poderemos ter um colapso do sistema com gravíssimas consequências sociais.
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