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É educador há mais de 30 anos e diretor-executivo da Escola Americana de Vitória

Escolha da escola certa: o que realmente importa na formação do seu filho

Certamente, o indicador de aprovações importa, mas por si só não deve nortear uma escolha. Como bem diz Rubem Alves, “ser o primeiro no vestibular é prova de habilidade e de memória

  • Cristiano Carvalho É educador há mais de 30 anos e diretor-executivo da Escola Americana de Vitória
Publicado em 25/11/2024 às 14h01

O que o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, publicado em 2023, tem a ver com a escolha da escola do seu filho? Nesta época do ano são tantas as possibilidades que se abrem para os pais, e tantas variáveis de oferta, que muitas vezes podemos ser induzidos a focar naquilo que não é o essencial. Como, em se tratando de educação, os resultados colhidos são de médio a longo prazo, a desconexão com o que realmente importa pode custar caro na moeda de um de nossos recursos mais escassos: o tempo.

De acordo com o The Future of Jobs Report 2023 (Relatório sobre o Futuro do Trabalho 2023), as cinco habilidades em ascensão como as mais valorizadas pelo mercado atual são: pensamento criativo, pensamento analítico, letramento tecnológico, curiosidade e aprendizagem contínua (lifelong learning), resiliência, flexibilidade e agilidade.

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Estudantes em sala de aula. Crédito: Divulgação

Antes de refletirmos sobre as habilidades em alta, vale uma consideração básica sobre os anos de uma criança ou jovem na educação básica: frequentamos a escola para desenvolvermos competências e habilidades, para aprendermos a nos conhecer e conhecer o mundo no qual estamos inseridos. Estar usando como referência um relatório chamado de “O Futuro do Trabalho” pode parecer paradoxal em relação ao que nos leva à escola, mas não é. Vamos aos dilemas cotidianos enfrentados pelos pais no processo de escolha.

Devo escolher uma escola para meu filho a partir dos índices de aprovação em vestibulares?

Certamente, o indicador de aprovações importa, mas por si só não deve nortear uma escolha. Como bem diz Rubem Alves, “ser o primeiro no vestibular é prova de habilidade e de memória. Mas não é prova de inteligência. Porque a inteligência é a procura do desconhecido que não foi ensinado e não é sabido.” Em termos práticos, uma escola voltada para uma cultura de provas e simulados, prepara operários para dar a resposta certa e ser aprovado em uma prova.

Por outro lado, escolas com foco no desenvolvimento em habilidades empreendedoras, formação internacional e metodologias ativas estão mais em sintonia com as demandas do mundo atual. Voltando ao relatório do Fórum Econômico Mundial, pensamento criativo, analítico e flexibilidades, por exemplo, não estão garantidos por esses indicadores. Onde posso observar o desenvolvimento dessas habilidades?

Procure olhar para o currículo e o aluno. Peça para que os pedagogos que estão te apresentando a escola te deem exemplos claros de como o aluno é levado a pensar, elaborar questões e construir, onde ele possui autoria e desenvolve projetos. Frequentemente, recebo pais que relatam que visitaram escolas em que a filosofia apresentada pelos pedagogos que os receberam não refletia o que viram ao andar pela escola.

Por isso, caminhe pela escola, em horário de pico, e observe como os alunos estão em suas salas de aula e no trânsito pelos espaços da escola. Difícil pensarmos em flexibilidade e curiosidade se todos os alunos, por padrão, se apresentam sentados em fileiras ou se deslocam sempre guiados. A arquitetura de uma escola, o chamado terceiro educador na pedagogia, em muito revela a filosofia de um currículo. Colaboração exige ambientes que se integram.

Navegar no mundo tecnológico

Como a escola prepara o aluno para navegar criticamente em um mundo cada vez mais tecnológico? Há um currículo que inclui letramento digital adequado para diferentes idades? O foco aqui não é o uso de celulares, mas fomentar o pensamento analítico no aluno para ser um usuário crítico e, possivelmente, desenvolvedor de novas tecnologias. Ignorar essa demanda é deixar os alunos na condição de meros consumidores à mercê de algoritmos e inteligência artificial.

Resiliência e flexibilidade: como a escola lida com normas?

O ambiente escolar incentiva autonomia ou controle? Regras mal definidas criam caos, e o excesso de controle gera rigidez. Uma boa dica é conversar com alunos e famílias para entender os níveis de segurança psicológica e confiança na condução educativa.

O relatório do Fórum Econômico Mundial em muito pode nos ajudar a fazer nossas escolhas para a educação de nossos filhos. Embora não seja um documento de cunho pedagógico, ele retrata o mundo do trabalho como ele é hoje e projeta tendências para o futuro. Em educação, o hoje está intimamente entrelaçado com o futuro. Por isso, evitar distrações mercadológicas e focar no essencial é um farol importante para navegarmos no mar da educação de nossos filhos e alunos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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