Quando as empresas e organizações começaram a pensar no tema sustentabilidade, há mais de 20 anos, a denominação usada era "responsabilidade socioambiental'; disto evoluiu para o termo "sustentabilidade", inicialmente com o conceito calcado em três aspectos: econômico, social e ambiental, posteriormente elevado a seis dimensões, incluindo-se ao tripé os aspectos institucional, cultural e espiritual.
Hoje em dia, no universo empresarial e na área de investimentos, o termo sustentabilidade evoluiu para a nomenclatura ESG (da sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) com o fim de designar instituições e organizações que prezam e adotam princípios de gestão - em seus processos, produtos e marcas – relacionados às questões ambientais (Environment), aliadas a ações sociais (Social) e a boas práticas de governança (Governance).
Se antes tais medidas sustentáveis eram restritas a um departamento ou diretoria dentro da empresa, hoje o ESG já é tratado como um tema transversal, que impacta todos os setores e áreas corporativas e influencia diretamente o “core” do negócio, a sua estratégia.
Assim, podemos resumir ESG como uma ferramenta poderosa de processos, critérios e métricas que analistas, investidores, consumidores e bancos utilizam para avaliar se as empresas com as quais operam estão comprometidas com os princípios ambientais, sociais e de boas governanças.
É um processo central da gestão empresarial que deve contemplar todos os stakeholders (acionistas, clientes, fornecedores, funcionários e comunidade ao entorno da companhia). De modo que aquelas companhias que assim operam sua gestão corporativa e alcançam determinada pontuação e avaliação estão mais qualificadas para atrair e receber recursos e investimentos nacionais e internacionais.
Essa visão sustentável e holística dos negócios é recente, resultado da evolução e mudança geracional que vivenciamos. As novas gerações que estão criando ou assumindo os negócios, investindo em empresas e indústrias ou consumindo produtos e serviços destas organizações, têm maior consciência ambiental, climática, ética, moral e social, ou seja, apoiam e participam de ações e programas que colaboram com a inclusão e diversidade de raça, gênero e origem socioeconômica.
Temas como mudança do clima e justiça climática, economia de baixo carbono, consumo sustentável, energias renováveis, justiça racial, redução das desigualdades e da poluição, transparência e ética são considerados pela nova geração como fundamentais para uma escolha de investimento, trabalho ou projeto.
UM NOVO AMBIENTE DE NEGÓCIO
Como consequência dessa maior conscientização e visão de futuro dos jovens e dos investidores da nova geração, um novo ambiente de negócio vem se formando no mercado financeiro, e estamos diante de um crescente número de administradores de fundos e de acionistas que querem alocar seus recursos em empresas, organizações e fundos que priorizem critérios ESG em seus negócios e estão mais preocupados com os impactos que causam à sociedade. Logo, são negócios que tendem a ser mais perenes, eficientes e duradouros, com resultados positivos tanto para a sociedade, quanto ao meio ambiente em que vivemos.
Segundo estudo da Morningstar recentemente publicado, capitaneado pelo analista e Ph.D Jon Hale, os fundos sustentáveis americanos perderam menos e se destacaram nos dois primeiros trimestres de 2020 em comparação a fundos convencionais. Os resultados da pesquisa também apontam que os fluxos de fundos ESG já alcançaram o recorde do ano passado, tudo isso em um ano de grande incerteza causada pela pandemia e outras questões, como o movimento pela justiça racial e a crise econômica global, provando serem investimentos mais resilientes durante a crise.
No Brasil, apesar de os parâmetros corporativos do ESG ainda estarem em estágio inicial, com o foco do investidor mais voltado a análise do parâmetro “G” (Governança corporativa), relacionados a gestão reputacional, envolvimento em escândalos de corrupção, transparência e compliance, já vemos avanço nos outros parâmetros (Ambiental e Social), a exemplo da B3 (Brasil Bolsa Balcão), bolsa de valores brasileira que, em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criou um índice de mercado que é composto por ações de companhias que, dentre outros critérios pré-estabelecidos, adotam práticas transparentes com relação a suas emissões de gases efeito estufa (GEE) – o Índice Carbono Eficiente (ICO2).
Seu objetivo é, além de incentivar as empresas com as ações mais negociadas a aferir, divulgar e monitorar suas emissões de GEE, prover o mercado com um indicador cuja performance será resultante de um portfólio balizado por fatores que incorporam, inclusive, as questões relacionadas às mudanças climáticas e a uma economia de baixo carbono.
A nossa legislação é uma das mais avançadas no mundo em proteção ao meio ambiente e existem uma série de iniciativas que apoiam o movimento. No entanto, vemos tal legislação ser, na prática, pouco observada e exigida, com pouca eficácia. Mas há oportunidades para crescer.
As empresas precisam mapear seus impactos e a sua dependência da natureza e da sociedade, monitorar e gerenciar seus riscos e oportunidades relacionados, e comunicar de forma transparente e consistente com investidores, consumidores e stakeholders.
Como se observa, o assunto é complexo, porém fundamental e urgente. Tais questões enfatizam a necessidade de os investidores e consumidores finais considerarem os riscos relacionados das corporações convencionais (business as usual) com aquelas que estão alinhadas às práticas ESG em seus processos, produtos e carteiras e que reafirmam o valor da sustentabilidade dentro do mainstream do investimento. Investir visando o bem-estar do presente é ter em mente o bem-estar das gerações futuras.
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A autora é advogada e consultora Ambiental e de Sustentabilidade
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