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É jornalista e escritora

Esgotamento mental e depressão têm a face feminina

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o simples fato de ser mulher leva a um acréscimo de 11 horas semanais no trabalho doméstico e nos cuidados não remunerados

  • Isa Colli É jornalista e escritora
Publicado em 02/09/2024 às 11h55

As mulheres estão mais esgotadas do que nunca. Esse é um fato inegável. As razões são muitas e pesam de maneira diferente para cada uma de nós. Para muitas, o esgotamento se dá principalmente devido à sobrecarga de trabalho e aí se inserem as duplas e triplas jornadas, que incluem as tarefas domésticas e a responsabilidade do cuidado.

Claro que há muitos homens verdadeiramente parceiros, mas é estatisticamente comprovado que as mulheres saem perdendo nessa conta. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o simples fato de ser mulher leva a um acréscimo de 11 horas semanais no trabalho doméstico e nos cuidados não remunerados. Outros fatores também contribuem para a exaustão feminina, como a pobreza, a violência, o preconceito e a falta de oportunidades.

Tanta pressão e desigualdade refletem no emocional, claro. Uma pesquisa da Think Olga, uma organização não governamental de inovação social, revelou que sete em cada 10 pessoas com depressão ou ansiedade são mulheres. Segundo a consulta, as causas apontadas são: estresse, baixa autoestima, irritabilidade, fadiga e tristeza. Além da sobrecarga do trabalho doméstico, a situação financeira apertada (48%), as dívidas (36%) e a remuneração baixa (32%) estão entre os fatores que mais impõem sofrimento.

Para a psicóloga Claudia Melo, com quem troquei algumas impressões sobre o tema, essa discrepância de gênero nos índices de depressão e ansiedade é um reflexo das múltiplas influências sociais, culturais, econômicas e biológicas que moldam a saúde mental e o bem-estar das mulheres.

“É de suma importância conversarmos, reconhecer e abordar esses fatores de maneira holística e integrada, promovendo a conscientização, o acesso a serviços de saúde mental, o suporte emocional, a redução das desigualdades de gênero, a valorização do autocuidado e a criação de ambientes saudáveis e acolhedores para as mulheres. Além disso, políticas públicas que visam combater a desigualdade, promover a equidade de gênero, garantir condições de trabalho dignas e oferecer suporte psicossocial são essenciais para prevenir e tratar a depressão e a ansiedade entre as mulheres”, enfatizou a profissional.

Gordura no fígado: cansaço
Esgotamento entre as  mulheres. Crédito: Shutterstock

A especialista sinaliza que o olhar atento e sensível, o diálogo aberto sobre questões emocionais, a busca por ajuda profissional e o fortalecimento do apoio social são passos importantes para enfrentar os desafios relacionados à saúde mental das mulheres. É crucial criar espaços seguros e inclusivos para compartilhar experiências, receber suporte e cuidado, e buscar caminhos para a recuperação e o bem-estar emocional.

O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional, em julho, o Projeto de Lei que cria a Política Nacional de Cuidados. O texto foi construído durante meses por um grupo de trabalho que reuniu equipes de 20 ministérios, acadêmicos e sociedade civil, com o objetivo de se pensar mecanismos para viabilizar a remuneração do trabalho do cuidado e a redução da sobrecarga de trabalho para quem cuida de forma não remunerada – que são fundamentalmente as mulheres.

A ideia é envolver as famílias, as comunidades, o Estado e o setor privado. Se o projeto sair do papel e virar lei, será um avanço, mas é preciso ir além. É necessário mudar a cultura e a lógica de um sistema ainda muito machista e patriarcal, que insiste na manutenção do homem no centro do poder.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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