No dia 13 de outubro de 2021, em um metrô na Filadélfia (Pensilvânia - EUA), uma mulher foi assediada e estuprada. As reportagens informam que ela entra no metrô, é abordada por seu agressor, reage ao mesmo empurrando-o, ele rasga suas roupas e a estupra dentro do vagão. O tempo de duração do crime é de 40 minutos, sendo que a conjunção carnal ocorre nos 8 minutos finais.
Mas este artigo está sendo produzido para você pensar! E não para repetirmos informações. O crime aconteceu por volta das 21h, em uma quarta-feira, na cidade mais populosa da Pensilvânia. Dezenas de passageiros estavam ou passaram pelo vagão onde tudo aconteceu e nada fizeram.
Porém, o que torna a situação mais estarrecedora é que, de acordo com as autoridades, alguns destes espectadores utilizaram de seus celulares para registrar o ato criminoso através de fotos ou vídeos, mas nenhum deles utilizou o aparelho eletrônico para pedir ajuda à polícia.
Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, nos fala sobre uma Modernidade Líquida baseada no desprendimento e no consumo de tudo e de todos. Sim, o consumo não só de objetos, mas de pessoas.
Na situação em questão o espetáculo é consumido. A vítima é consumida por seu agressor, mas a sua dor é consumida pelos espectadores que, ao invés de intervirem, preferem produzir imagens que podem render um bom dinheiro se vendidas e milhares de likes nas redes sociais pelo flagra da dor cotidiana. A intervenção torna-se segunda opção, afinal o que se ganha com ela?
Não é novidade que a violência tornou-se banalizada. Quando sentamos à mesa na hora do almoço com nossos filhos recém chegados da aula, ligamos a televisão e o que vemos são reportagens sobre roubos, estupros e mortes intercaladas com propagandas de shakes e educação a distância.
Nossas crianças inclusive (re)descobriram uma brincadeira infantil - batatinha frita 1, 2, 3 - ao terem contato direta ou indiretamente com uma série coreana baseada em jogos mortais. Pessoas morrem em acidentes enquanto outras filmam ao invés de socorrer… e por aí vai.
E foi este consumo da violência que permitiu que uma mulher fosse vítima de agressão em um lugar público, virando manchete para que nós a consumíssemos como estamos fazendo agora.
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Só não se esqueça: você é o que você consome!
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