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Extremos climáticos: importância da infraestrutura verde na Grande Vitória

Marco Bravo É biólogo, botânico/paisagista, mestre em Gestão Ambiental, consultor ambiental e comentarista de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Rádio CBN Vitória.

  • Marco Bravo É biólogo, botânico/paisagista, mestre em Gestão Ambiental, consultor ambiental e comentarista de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Rádio CBN Vitória.
Publicado em 02/12/2024 às 10h07

Na Grande Vitória, um dia de chuva intensa pode transformar ruas em rios e avenidas em passagens intransitáveis. Em questão de horas, o cotidiano de milhares de pessoas é impactado, e os prejuízos se acumulam. Mas essa realidade, conhecida pelos capixabas, exige cada vez mais do poder público e da população. Com as mudanças climáticas acentuando a frequência e a intensidade das chuvas, surgem perguntas inevitáveis: será que estamos preparados? E como podemos transformar a cidade para enfrentar os desafios climáticos que se aproximam?

A solução vai muito além de obras de drenagem convencionais. Na verdade, o futuro da Grande Vitória depende de um conjunto integrado de práticas e infraestruturas verdes – desde o Plano Diretor de Arborização e o reflorestamento de encostas até jardins de chuva e pavimentações permeáveis.

 Floresta de Pacotuba revela um espetáculo da natureza no Sul do ES
Árvores da Floresta Nacional (Flona) de Pacotuba, em Cachoeiro de Itapemirim. Crédito: Matheus Martins

Cada uma dessas ações contribui para reduzir o impacto das tempestades, tornar a cidade mais segura e promover um ambiente urbano sustentável e saudável.

Plano Diretor de Arborização: a natureza como aliada

Um dos elementos mais importantes para reduzir os impactos das chuvas na cidade é o Plano Diretor de Arborização. Árvores urbanas, além de embelezarem a paisagem, desempenham um papel essencial na retenção de água e na regulação da temperatura. Cada árvore é capaz de reter até 100 litros de água da chuva, aliviando a pressão sobre os sistemas de drenagem e reduzindo o risco de alagamentos. Mas os benefícios não param por aí: a sombra das árvores e o vapor d’água que elas liberam podem reduzir a temperatura local entre 2 e 8 graus Celsius, ajudando a combater as ilhas de calor que tornam o ambiente urbano tão desconfortável nos dias mais quentes.

Com o Plano Diretor de Arborização, a Grande Vitória pode transformar suas vias e praças em áreas verdes e funcionais, criando um ambiente mais resiliente. A pergunta que fica é: estamos investindo o suficiente na expansão dessas áreas arborizadas e no cuidado com as árvores que já temos?

Reflorestamento de encostas: estabilidade e segurança

Outro ponto essencial é o reflorestamento das encostas. Em uma região onde áreas urbanizadas convivem com montanhas, como na Grande Vitória, o solo instável e a falta de vegetação tornam-se uma combinação perigosa em épocas de chuva. As raízes das árvores em encostas ajudam a fixar o solo, reduzindo o risco de deslizamentos e protegendo comunidades inteiras de tragédias. Além disso, a vegetação natural nas encostas atua como uma barreira de absorção de água, evitando que grandes volumes de água escorram rapidamente para áreas baixas e urbanizadas.

Jardins de chuva: solução verde e eficaz

Os jardins de chuva são outra ferramenta valiosa para ajudar na drenagem urbana. Esses espaços verdes funcionam como esponjas naturais, retendo a água das chuvas e evitando que ela se acumule nas ruas e calçadas. Em praças, escolas e até mesmo em áreas residenciais, os jardins de chuva oferecem uma maneira simples e eficiente de gerenciar as águas pluviais, além de melhorar a estética urbana e incentivar o contato da população com a natureza.

Coleta de lixo: medida fundamental

Embora pareça óbvio, o descarte correto de lixo é um dos fatores mais importantes para prevenir enchentes. Quando resíduos obstruem bueiros e canais de escoamento, o fluxo de água fica comprometido, aumentando as chances de alagamentos. Manter a cidade limpa depende de ações do poder público e da conscientização de cada cidadão. Pequenos atos de responsabilidade, como não jogar lixo nas ruas, têm um grande impacto na prevenção de enchentes e na manutenção da infraestrutura.

Coleta de lixo
Coleta de lixo. Crédito: IStock

Pisos porosos em vias secundárias: absorção e sustentabilidade

Em ruas e calçadas secundárias, a instalação de pisos porosos pode fazer uma grande diferença. Ao permitir que a água infiltre no solo, esses pisos ajudam a reduzir o volume de água que sobrecarrega os sistemas de drenagem e contribuem para a recarga dos aquíferos subterrâneos, uma medida especialmente relevante em tempos de escassez de água.

Obras de drenagem: necessidade permanente

Os sistemas de drenagem são, sem dúvida, o esqueleto da infraestrutura urbana para gerenciar as águas pluviais. No entanto, para que esses sistemas funcionem bem, eles precisam ser constantemente atualizados e expandidos conforme a cidade cresce e as mudanças climáticas intensificam os eventos de chuva. Obras de drenagem eficientes são fundamentais para proteger a infraestrutura da cidade e evitar prejuízos à população.

Sustentação de encostas: proteção para quem vive em áreas de risco

Em regiões montanhosas, como a Grande Vitória, a sustentação de encostas é uma prioridade que salva vidas. Com muros de contenção e barreiras de proteção, as comunidades que vivem próximas a encostas ficam menos expostas a desastres naturais. Essas intervenções estruturais oferecem segurança para as áreas de risco e são uma necessidade constante, especialmente em épocas de chuva.

Estamos realmente preparados?

Todas essas iniciativas – do Plano Diretor de Arborização à coleta adequada de lixo – são peças de um quebra-cabeça que, juntas, formam uma cidade mais preparada e segura. No entanto, a pergunta permanece: estamos realmente preparados para os extremos climáticos que o futuro pode trazer? A resposta depende do comprometimento da sociedade como um todo.

Políticas públicas robustas são essenciais, mas sem a participação e o apoio da população, elas podem ser insuficientes. Cada árvore plantada, cada jardim de chuva criado e cada ato consciente de descarte de lixo contam na construção de uma Grande Vitória mais resiliente.

Uma cidade preparada para enfrentar as tempestades do futuro é uma cidade que entende o valor de trabalhar em harmonia com a natureza. Uma cidade onde as árvores não são apenas decoração, mas instrumentos de resiliência; onde o solo absorve a água, e o lixo é tratado com responsabilidade.

Transformar a Grande Vitória em um modelo de sustentabilidade é uma meta que exige o engajamento de todos – poder público, empresas, comunidades e cada um de nós. Se queremos uma cidade que não apenas resista, mas prospere diante dos desafios climáticos, está na hora de agir. Porque, no final das contas, uma Grande Vitória verde e sustentável beneficia a todos nós.

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