O estudo sobre o uso de notícias falsas é antigo no campo da Comunicação. Muitos acham que o termo surgiu com Donald Trump para reclamar da cobertura da imprensa, que o estaria perseguindo, na campanha de 2016. No entanto, há quase 2000 anos, o pensador Sêneca já se referia a tal fenômeno, em sua compreensão sobre a razão de algumas pessoas usarem tanto de mentiras para se tornarem populares.
Para ele, em meio ao público, “alguns são muito crédulos, outros são descuidados. Alguns são iludidos, outros encantados com a falsidade. Alguns não a evitam, outros a procuram”. Enfim, nada mais atual.
O que realmente ocorre é que aqueles que reclamam das notícias falsas são os que mais a utilizam como estratégia de desinformação, subinformação, falsidade ou informação fraudulenta. Alguns falam até com naturalidade em pós-verdades e fatos alternativos.
Pois tudo isso está ligado a técnicas de propaganda ideológica e manipulação da informação que ressurgiram fortemente a partir da ascensão e construção do discurso de “mitos” associados a Trump e Bolsonaro em suas campanhas e governos.
A proliferação de informações que circulam nas redes sociais digitais gera um ambiente ideal para a desinformação intencional. Aqueles que são anti-imprensa, antiverdade, anticiência e anti-educação se valem da credulidade de alguns para disseminar o que na minha época de repórter era simplesmente chamado de mentira.
Se a mentira fosse devido a um erro de apuração, no dia seguinte pedia-se desculpa e o jornalista tomava uma advertência. Mas se fosse intencional, seu responsável era demitido e tinha que mudar de profissão; pois a matéria-prima de quem trabalha com a informação é a verdade factual. E ainda era passível de tomar um processo. Como no novo “espaço público” virtual a credibilidade não é pedra fundamental, cria-se a impressão de um ambiente de “vale tudo”. Só que não.
A liberdade de expressão e a democratização das mídias são para todos; suas conquistas custaram vidas de muitas pessoas ao longo da história. Dessa forma, jamais podem ser usadas com irresponsabilidade. Pelo contrário, a sociedade precisa cada vez mais de reflexão e aprofundamento. Pois só assim vai ter uma mínima chance de distinguir entre a mentira, a desinformação e o fato. Por isso, mesmo ao compartilhar informações, desconfie, cheque, seja ético. Utilize alguns preciosos segundos consultando outras fontes antes de tirar qualquer conclusão apressada. Ou então continue acreditando e disseminando mentiras.
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O autor é professor de Comunicação na Ufes e membro do Conselho Estadual de Ética Pública
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