No Brasil, temos uma combinação perigosa da triste realidade sanitária nas comunidades, em que falta saneamento básico e acesso à água potável, unida à escassa alimentação saudável para as famílias que vivem em estado de vulnerabilidade, resultando em sérios problemas de saúde.
Para piorar ainda mais essa situação, a chegada do novo coronavírus no país fez com que essas pessoas perdessem sua principal renda, que em muitos casos provém do trabalho autônomo ou informal, além de lidar com os filhos em casa, sem ir à escola por conta do isolamento social, decretado para diminuir o alastre da doença.
Com todos em casa, em um ambiente sem recursos, onde muitos lares são construídos em área de risco, o acesso restrito à água, falta de canalização e ausência de tratamento de esgoto são realidades preocupantes, além da alimentação precária. A partir disso, a população fica à mercê da falta de estrutura, como sempre esteve e, se não houver complicações devido à Covid-19, pode haver a possibilidade de ficar doente por conta da água não tratada. Atrevo-me a dizer que tais combinações podem ser ainda mais letais que a própria pandemia.
Neste período, em que as crianças estão fora das escolas e os pais afastados de seus empregos, temos um cenário devastador, com aumento do custo de vida das famílias, principalmente em alimentação e higiene, e tendo que lidar com a falta de renda adequada, ou seja, combinação devastadora.
Estima-se, ainda, que aproximadamente 72% dessas famílias não possuem renda estável e muito menos reserva de emergência, então, como podemos cobrar deles tal precaução, se a realidade nas favelas brasileiras é munida de viver “um dia após o outro”, seria desumano, não?
Como especialista em saneamento e tratamento de esgoto, o que mais me preocupa é saber que, segundo o Instituto Brasileiro de Educação Continuada, 5 milhões de brasileiros não possuem abastecimento de água tratada e o estudo da instituição ainda aponta que quase 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto nas comunidades.
Esses números demonstram uma realidade comum entre crianças e jovens que circulam sobre esgoto a céu aberto, podendo contrair doenças tão perigosas como o novo coronavírus, incluindo intoxicação alimentar, leptospirose, hepatites, febre amarela, dengue, chikungunya e mais 20 vetores que se desenvolvem pela falta de saneamento.
A displicência histórica dos investimentos em saneamento, fez com que o Brasil tenha gasto R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos para tratar doenças provocadas pela falta de saneamento básico, conforme dados do Ministério da Saúde.
Assim, investir em saneamento básico é fundamental para garantir condições dignas de sobrevivência e higiene, o que resulta em condições sustentáveis no SUS, pois diminuirá os casos de doenças provocadas pelo contato com água contaminada, além de permitir que essas pessoas em situação de vulnerabilidade tenham uma condição de vida melhor.
E, após a pandemia, nós vamos precisar de todos os brasileiros unidos para reerguer a economia, pois agora o foco é a saúde e bem-estar de todos. Por isso, precisamos permitir o acesso à condições saudáveis, para que no futuro todos possam entrar no mercado de trabalho, gerar riquezas para nosso pais e desenvolver a nação novamente.
O autor é especialista em saneamento e presidente-executivo da Ecosan Water Technologies
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