A competição é precursora da produtividade; a produtividade sustenta a abundância; a abundância proporciona uma vida digna; mas existe vida digna sem felicidade?
Eu acredito que nós, humanos, temos uma tendência a enxergar a felicidade em termos relativos. E talvez isso esteja tão enraizado, tão difundido, que seja quase impossível quebrar esse ciclo.
Perceba que nós desenvolvemos um método intrínseco de qualificação das coisas: eu só posso dizer que algo é bom se eu puder compará-lo a outro, mesmo que esse processo mental seja involuntário. Ou seja, eu só posso te chamar de alto ou baixo porque conheço muitas pessoas e consigo tirar uma média delas. Da mesma forma, você não pode gostar de um vinho, se não tiver experimentado algum vinho previamente ou ingerido qualquer outra coisa na vida.
E, então, será que o trabalho que eu tenho é bom, ou ele é pior que o seu? E o meu carro, será que é confortável mesmo, ou existe algum mais confortável que, infelizmente, eu ainda não possa ter?
Será que algum dia eu vou ter aquilo que é mais bonito, mais confortável, mais limpo, mais rápido, mais engraçado e mais gostoso? E, se por acaso esse dia nunca chegar, então eu nunca vou saber o que é ser feliz?
Vamos voltar para o começo: se eu só posso qualificar as coisas me baseando em experiências passadas, como eu qualifiquei a primeira coisa? Como será que foi o gosto do meu primeiro leite? Como foi ouvir um som pela primeira vez? Por qual motivo eu dei minha primeira risada?
Bom, então, talvez, para ser feliz, você não precise se basear em nada. Um dia nós já vivemos assim, sem referências, sem expectativas nem ambições.
Mas será que temos capacidade para simplesmente esquecer a competição, tão profundamente concretada em nós ao longo da nossa vida e diante de todas as nossas experiências, para podermos verdadeiramente aceitar que não há sofisticação maior que a própria simplicidade?
Será que adianta construirmos uma cultura competitiva, gerando abundância, se a própria competição destrói a contínua felicidade?
Qual a verdadeira finalidade da vida em sociedade, afinal? Gerar valor para o outro ou para si próprio? E será que essa tendência de compensação pelo serviço ao outro não tem destruído a nossa própria razão de existir?
É lógico uma sociedade produtiva, abundante e, ao mesmo tempo, triste e violenta pelo simples fato de achar que está sempre perdendo? Será que a competição acabou se tornando um fim em si mesma?
Para finalizar, a pergunta mais importante ainda não foi feita: será que vale a pena contar os pontos no tênis de mesa?
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