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É advogada especializada em Direito Civil, do Trabalho e Direito Previdenciário, pós-graduada em Direito do Trabalho, Direito Civil e Processo Cível

Fim da escala 6x1: "Não sois máquinas, homens é que sois!"

O que se busca é um debate justo e maduro, para se encontrar um modelo de jornada mais flexível e adaptado às novas realidades do mercado, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e, por consequência, de suas famílias também

  • Rosemary Machado de Paula É advogada especializada em Direito Civil, do Trabalho e Direito Previdenciário, pós-graduada em Direito do Trabalho, Direito Civil e Processo Cível
Publicado em 14/11/2024 às 13h52

Esses dias, após a iniciativa de uma parlamentar em colher assinaturas para acabar com a escala 6x1 devido aos impactos negativos dessa jornada na vida dos trabalhadores, acendeu-se um debate sobre tal jornada, que é comum em diversos setores, especialmente no comércio e na indústria.

A mobilização nas redes sociais também foi um fator importante para o avanço da proposta, tendo já ultrapassado o número mínimo de assinaturas necessárias para viabilizar a tramitação na Câmara dos Deputados. E aí, tal escala é prejudicial ou não para o trabalhador?

Inúmeros são os comentários e as opiniões! É claro que as vozes mais altas são sempre que tal medida vai “afundar” a economia, que empresas vão fechar, e que de novo a culpa será do trabalhador, que “quer trabalhar menos”. E olha que recentemente falou-se muito sobre o trabalho de apenas 4 dias na semana...

Por outro lado, ouvindo os trabalhadores que atuam nessa área, ou seja, aqueles que de fato têm lugar de fala, entendem ser necessária tal mudança, pois essa configuração apresenta uma série de malefícios e desvantagens que impactam diretamente a saúde e o bem-estar, visto que nesta escala de trabalho 6x1, há trabalho por seis dias seguidos com direito a um dia de descanso. Portanto, trata-se, tão somente, em debater condições de trabalho mais justas.

Trabalhar seis dias consecutivos leva a um desgaste físico, sem contar o deslocamento. A falta de dias de descanso suficientes para a recuperação muscular e mental pode resultar em uma série de problemas de saúde, como estresse, insônia, fadiga crônica e até problemas cardiovasculares.

O corpo humano necessita de pausas regulares para se recuperar do esforço contínuo, e a falta dessas pausas traz consequências a longo prazo, não sendo novidade para ninguém que a população ativa se encontra adoecida, e inúmeros são os casos de doença ocupacional, burnout, depressão, entre outros males. Hoje já se fala dos benefícios de se trabalhar apenas 4 dias na semana.

E não para por aí: além do impacto na saúde física e mental, a rotina extenuante também causa problemas na convivência familiar e social. Limitando tempo de descanso e convívio familiar, lazer passa a ser uma utopia. Outro fato importante é a dificuldades em manter um autoaperfeiçoamento, pois essa escala cria uma barreira para trabalhadores que desejam continuar seus estudos ou investir em desenvolvimento pessoal, impedindo o crescimento profissional.

E aí sempre vem aquela conversa de que o trabalhador brasileiro não tem “qualificação”. Indaga-se, pois: como, quando? Nesse ciclo de estagnação, o operário nem sequer tem tempo de se cuidar, quanto mais avançar em sua carreira. Sem tempo para se qualificar as oportunidades de aperfeiçoamento passam a ser esquecidas.

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Trabalho. Crédito: Shutterstock

Quanto às alegações de que haverá prejuízo para a economia, isso também não se justifica. Empresas que investem em políticas de trabalho mais equilibradas tendem a ter trabalhadores mais saudáveis, produtivos e satisfeitos, o que, em última análise, beneficia tanto o funcionário quanto a organização como um todo. A saúde e o bem-estar dos trabalhadores devem ser prioridade, e estratégias que promovam um equilíbrio melhor entre vida profissional e pessoal são fundamentais. É mais sustentável para todos.

Em suma, o que se busca é um debate justo e maduro, para se encontrar um modelo de jornada mais flexível e adaptado às novas realidades do mercado, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e, por consequência, de suas famílias também. É essencial que empresas e governos considerem alternativas que promovam um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal para o bem-estar de todos. Afinal, não somos maquinas!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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