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Fim da escala 6x1 pode afetar todo o ecossistema do turismo capixaba

Mudanças tão amplas devem ser acompanhadas de incentivos governamentais e suporte para adequação. A transição deve ser feita de forma gradual, incluindo incentivo à automação, redução de impostos e simplificação de processos trabalhistas

  • Fernando Otávio Campos É presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Espírito Santo (ABIH-ES)
Publicado em 17/11/2024 às 10h05

A mudança para uma jornada 6x1 por lei, especialmente sem medidas de incentivo à produtividade e de redução de custos, representa um impacto profundo para o setor hoteleiro. Embora muitos hotéis grandes já utilizem escalas de 12x36, onde os funcionários trabalham em turnos prolongados e folgam dias consecutivos, para a maioria dos pequenos e médios hotéis, que são a espinha dorsal do turismo, essa prática é inviável devido à estrutura de operação e ao orçamento restrito.

Nos hotéis menores, onde o serviço precisa ser contínuo, qualquer alteração drástica na jornada sem suporte financeiro e estrutural é um desafio difícil de superar.

Essa imposição aumentaria o custo com pessoal com contratação adicional de funcionários para preencher as escalas com uma alta significativa na folha de pagamento, com impacto direto nos preços dos serviços oferecidos. Muitos dos hotéis já operam com margens baixas, podem ser obrigados a contratar informalmente para suprir a demanda, contribuindo para o crescimento da informalidade.

Todo o ecossistema ao redor do turismo seria afetado: a padaria que fornece o café da manhã, as lavanderias responsáveis pela limpeza da roupa de cama, as empresas de transporte e demais fornecedores. Com o aumento dos custos, seria possível que essas empresas repassassem parte desse encargo aos hotéis, que, por sua vez, repassariam aos hóspedes, tornando a estadia mais cara..

O bolso do consumidor será impactado, com uma elevação nos preços, dificultando o acesso aos serviços turísticos. Numa época em que o turismo doméstico é incentivado como forma de fortalecer a economia, o aumento dos custos poderia desencorajar viagens, afetando a geração de empregos e a transferência econômica nos destinos turísticos.

Para uma mudança deste modelo é preciso que haja uma redução nos custos para contratação, especialmente dos encargos trabalhistas. Isso não só tornaria possível uma adequação paulatina nas jornadas, mas também poderia aliviar a pressão financeira sobre o setor, possibilitando investimentos em automação e tecnologias para ganho de produtividade sem sacrificar o trabalhador.

Voo de balão em Pedra Azul
Voo de balão em Pedra Azul. Crédito: Instagram/@voe.pedraazul

A proposta atual, que pode aumentar a necessidade de força de trabalho em até 18% nos grandes hotéis e mais de 30% nos pequenos e podendo dobrar o custo, gera uma necessidade de tempo e planejamento para ser renovada de forma eficaz.

Mudanças tão amplas, como a extinção da escala 6x1, devem ser acompanhadas de incentivos governamentais e suporte para adequação. A transição deve ser feita de forma gradual, incluindo incentivo à automação, redução de impostos e simplificação de processos trabalhistas, com o governo assumindo parte das responsabilidades que recaem sobre o setor privado, como a saúde e segurança do trabalhador.

Isso tornaria viável uma modernização gradual do setor, que poderia melhorar as condições de trabalho sem comprometer a sustentabilidade financeira dos pequenos e médios negócios, os mais impactados nesse cenário.

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