A geração Z, rotulada como a geração dos "nem-nem" — nem estudam, nem trabalham —, enfrenta críticas severas por ser considerada fraca e desmotivada. No entanto, essa percepção, dependendo da ótica que se vê, pode ser simplista e até injusta, ignorando as complexas realidades econômicas e sociais que moldam o comportamento desta geração.
A outras gerações, digo isso pois sou nascido em 1974, de fato têm maior robustez e não é formada pelo mesmo aço que é formada a nova geração. Mas temos que considerar que não podemos sofrer do mal de Gabriela, “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim”.
E nesta evolução, que não é mais daquela que manda quem pode e obedece quem tem juízo, é importante considerarmos que a geração Z cresceu durante um período de recessões econômicas e mudanças rápidas no mercado de trabalho.
Nas gerações Y e mais antigas, um diploma era um passaporte para escolha de um bom emprego, e esse emprego, na maioria das vezes, duraria até os dias da tão sonhada aposentadoria. Essa estabilidade que as gerações anteriores experimentaram é, em muitos casos, inacessível para a geração Z. Empregos com boas remunerações e benefícios diminuíram, enquanto a concorrência aumentou, muitas vezes exigindo qualificações mais altas para posições de entrada. Isso não é apenas no Brasil, mas no mundo.
Além disso, a evolução tecnológica criou novas formas de trabalho e aprendizado. Muitos jovens estão se voltando para atividades como freelancer, empreendedorismo digital e educação on-line, que não se encaixam nas definições tradicionais de trabalho e estudo. Assim, rotular esses jovens como "nem-nem" pode ignorar essas novas formas de engajamento e produtividade.
Outro fator crucial é a mudança nas prioridades e valores. A geração Z valoriza a flexibilidade, o bem-estar mental e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Eles não querem repetir os erros das gerações anteriores, que até mesmo me incluo nela, que muitas vezes sacrificaram a saúde e a felicidade por uma estabilidade financeira que, hoje, parece mais ilusória. Não vejo o desejo por semanas de quatro dias e opções de home office como sinônimo de preguiça, mas sim uma busca por um modelo de trabalho mais sustentável e alinhado com as possibilidades tecnológicas atuais.
E isso vai ao encontro de novas práticas empresariais que são cobradas tanto pela geração Z, quanto pelos próprios consumidores, que é aplicação de ESG, tão essenciais para a sustentabilidade e responsabilidade corporativa. Essa nova geração, tanto de trabalhadores quanto de consumidores, busca trabalhar e comprar em empresas que não apenas visam lucro, mas que também têm um compromisso sério com a responsabilidade ambiental, social e de governança. Para eles, empresas que ignoram ESG estão desatualizadas e são vistas como irresponsáveis.
Por outro lado, também tem o peso que a ênfase excessiva em ESG pode desviar o foco da eficiência operacional e dos resultados financeiros. Críticos acreditam que o objetivo principal de uma empresa deve ser gerar lucro para seus acionistas e que as práticas ESG, se não forem bem implementadas, podem aumentar custos e reduzir a competitividade.
Este debate reflete a tensão entre a tradição empresarial e a inovação trazida pela geração Z. Enquanto os jovens defendem um mundo corporativo mais ético e sustentável, há resistência de setores que veem essas mudanças como uma ameaça à lucratividade imediata. Encontrar um equilíbrio entre esses pontos de vista pode ser o caminho para uma evolução que atenda tanto as demandas modernas quanto as necessidades econômicas.
Portanto, ao invés de enxergar a geração Z como fraca ou desmotivada, devemos sair do “mal de Gabriela” e considerar que está navegando um mundo muito diferente, cheio de desafios únicos e oportunidades inéditas. As adaptações que estão propondo podem, na verdade, ser passos necessários para construir um futuro de trabalho mais equilibrado e humano. É uma geração que busca se adaptar e prosperar, mesmo que seus métodos e prioridades sejam diferentes das gerações anteriores, mas que precisam assumir o seu papel não usando os pais como muleta para suas ações.
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