Estamos comemorando, no Espírito Santo, os 150 anos da imigração italiana. Afinal, foi no nosso Estado que se iniciou o grande ciclo migratório dos italianos para o Brasil. Como sabemos, o segundo império, através da política de atração de europeus, reconfigurou o país, até então marcado pela tragédia do trabalho escravizado. O ingresso das famílias vindas do Norte da Itália muito ajudou a construir o Espírito Santo empreendedor que temos hoje.
Como parte das festividades desse evento histórico, a Assembleia Legislativa está abrindo nesta quarta-feira ao público uma exposição sobre a extraordinária trajetória política de nosso primeiro governador de origem italiana: Gerson Camata. Só o fato de ser descendente daqueles heroicos desbravadores dos sertões capixabas já mereceria homenagem por parte do Poder Legislativo. Mas, no caso de Camata, trata-se de fato ainda mais relevante. Foi um dos maiores governadores de nossa história.
Sua trajetória política é extraordinária. Na verdade ela começa quando ele, chegando a Vitória, prossegue a carreira de locutor de rádio iniciada no interior. Nos microfones da Rádio Vitória, encantou a todos com o seu programa A Ronda Policial. Maior fenômeno do rádio em sua época, elegeu-se vereador por Vitória na segunda metade dos anos 1960.
Foi depois deputado estadual e também deputado federal. Em seus mandatos defendeu com vigor a agricultura capixaba, em especial aquela ligada ao café. Aliás, foi o café a base econômica de sustentação dos italianos desde o início.
Depois, já vinculado ao PMDB, construiu em 1982 sua vitoriosa candidatura ao governo do Estado. O governo federal, imaginando que controlava as bases municipais através da Arena e depois do PDS, criou para aquela eleição o chamado voto casado. Assim, o eleitor teve que votar no mesmo partido de vereador a governador, as eleições foram também gerais. Os mandatos foram coincidentes. Quando o fenômeno Camata apareceu no processo, os eleitores começaram a decidir votar nos vereadores e nos prefeitos também do PMDB.
O resultado do sucesso de Camata foi também a eleição de novos nomes na política. Estou com isso querendo dizer que Camata foi não apenas um político marcante e um extraordinário governador, como também liderou o processo de formação de novos atores no processo local. Renovou enormemente a política capixaba.
Seu governo tratou com prioridade estender o progresso que estava concentrado na região metropolitana e em faixas do litoral entre São Mateus e Anchieta, para todo o interior. Estradas, eletrificação rural, telefonia no campo foram políticas públicas responsáveis pelo grande sucesso do governo.
Tão grande era o prestígio de Gerson Camata ao deixar o governo em 1986, que ele teve três mandatos de senador da República. Neles muito trabalhou pelo nosso Estado e, como não podia deixar de ser, pela preservação da memória dos imigrantes italianos. No Senado, Camata foi o autor da Lei 11.687 de 2008, que instituiu a data de hoje, 21 de fevereiro, como o Dia Nacional do Imigrante Italiano, comemorado em todo o Brasil.
A Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo faz assim a mais justa das homenagens a esse grande capixaba que muito honrou suas raízes e que teve a graça de distribuir o progresso para muitos e a felicidade para os que tiveram, como eu, a sorte desse convívio. Foi um ser humano honrado, feliz no seu casamento com a também brilhante Rita Camata e um homem que esbanjava alegria e felicidade.
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