O contexto pandêmico intensifica problemas que a classe trabalhadora brasileira enfrenta há anos, como a questão do desemprego e da informalidade. O Estado brasileiro, através do governo federal, inicialmente com uma postura negacionista e posteriormente individualizando a responsabilidade, em uma distorção do que prega de liberdade individual, tratou de forma equivocada a pandemia, tanto em seu caráter de saúde pública quanto na questão econômica e social.
Essa postura gerou aumento do desemprego. De acordo com dados do IBGE, 11,6% da população estava nesta condição em fevereiro de 2020, anteriormente à pandemia, e em agosto a taxa de desemprego alcançou 13,3%, com 8,9 milhões de pessoas perdendo seu emprego no segundo trimestre. O trabalho informal, com dados de março, encontrou-se em 38 milhões ou 40,6% da população ocupada.
Há a impressão do baixo aumento do desemprego durante a pandemia, mas é importante compreender que o IBGE apenas computa na estatística se a pessoa desempregada estiver buscando emprego. Por isso, mesmo com o alto número de perda de empregos, o número ficou estável em 12,8 milhões e a tendência é de que haja uma explosão nesta taxa quando a pandemia for superada. O trabalho informal, é importante identificarmos, possui um duplo caráter, sendo responsável ou pela renda mensal familiar ou como uma maneira de complementar sua renda através do bico.
Entretanto, o governo federal age como se a população brasileira estivesse passando por uma onda de tranquilidade, negando e distorcendo a realidade que bate à porta, com declarações esdrúxulas de parabenização à preservação do meio ambiente, na mesma semana em que o Pantanal tem recorde de queimadas. Investigação em cinco fazendas do Mato Grosso do Sul aponta incêndio criminoso para aumentar área de pastagem para o gado.
A fome no Brasil atinge patamares altos, com cerca de 10,3 milhões de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, segundo dados disponibilizados pelo IBGE neste mês. O aumento nos preços dos alimentos presentes na cesta básica agravam essa situação, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, aponta que o preço do arroz subiu em decorrência da melhora de vida das pessoas pobres no Brasil.
No mínimo contraditória a afirmativa, diante de dados que evidenciam o momento ruim que as pessoas enfrentam no Brasil, tendo sido o valor do auxílio emergencial reduzido pela metade, chegando à quantia de R$ 300 que será mantida até dezembro, com nenhuma segurança de manutenção a partir de janeiro de 2021.
Essa postura de cada um por si e o governo pelos ricos provocará, durante uma possível explosão da taxa de desemprego, um aumento exponencial do trabalho informal. Com a manutenção do Teto dos Gastos, que congela investimentos sociais por 20 anos, e neste contexto pandêmico, essa informalidade terá consequências agravadas, uma vez que a áreas de saúde, educação, assistência social e segurança alimentar terão parcos investimentos.
Portanto, Bolsonaro e sua equipe pintam um Brasil que vive num mar de rosas, sem problemas, ou em que os problemas sempre são os outros, fazendo o que pratica bem desde a época das eleições de 2018: não se responsabilizando por nenhum problema no país. Ao mesmo tempo, a classe trabalhadora brasileira sente na pele as angústias e necessidades e busca incessantemente minimizar o caos e gerir sua sobrevivência de maneira organizada ou individual.
A tendência é de um fim de ano melancólico e de um 2021 de caos político, econômico e social do qual Bolsonaro e sua equipe vão, mais uma vez, se eximir de responsabilidade. Para vencermos essa tendência, é necessário organização e luta da classe trabalhadora contra o desmonte do Estado e da política de morte que o governo federal pratica.
O autor é sociólogo e mestrando em Política Social pela Universidade Federal do Espírito Santo
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