O MEC divulgou recentemente o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Assim como fiz em 2019 e 2021, volto a este espaço para comentar os resultados do Espírito Santo. O primeiro comentário diz respeito ao próprio Ideb, um índice resultante de dois indicadores. Um deles é o IP, referente ao rendimento. O foco, aqui, é a taxa de aprovação. A não aprovação, como se sabe, pode ser causada por duas razões: nota insuficiente ou excesso de falta.
Logo, todo gestor educacional deve cuidar da reprovação para evitar uma piora no rendimento. É fundamental monitorar a frequência dos estudantes, atacar os preditores de abandono e realizar a busca ativa escolar – o que a Secretaria de Estado da Educação tem feito nos últimos anos, sobretudo com a criação da Gerência de Políticas de Apoio à Permanência e Busca Ativa Escolar.
No caso da nota, a solução passa pela melhoria da aprendizagem, expressa no outro indicador, chamado IN. O IN se refere à proficiência, com foco em Língua Portuguesa e Matemática. Ambas as notas são sintetizadas em uma só. É esta nota média padronizada que constitui o IN. Quando multiplicamos o IP pelo IN, chegamos à nota do Ideb.
Disso decorre o segundo comentário: sempre que vejo alguém sugerindo que o Ideb melhorou porque os estudantes estão sendo aprovados automaticamente, percebo haver uma baixa apropriação do tema. Afinal, se os estudantes forem promovidos mesmo sem ter aprendido, o outro indicador, o IN, necessariamente cairá, prejudicando o Ideb. Um indicador, portanto, controla o outro. Este é o desafio de subir no Ideb: melhorar em ambos.
Na rede estadual, conseguimos precisamente esse objetivo em 2023. No Ensino Médio, o fluxo passou de 0,93 para 0,97 desde o último Ideb. Isso significa uma taxa de reprovação de 3% nesta etapa da educação básica, onde, em 2005, a rede estadual chegou a reprovar 29% dos seus estudantes. Já a aprendizagem passou de 4,8 para 4,9 no mesmo período. Multiplicando-se 0,97 por 4,9, temos nosso Ideb de 4,8, o maior da série histórica iniciada há quase vinte anos.
O terceiro comentário trata dos diversos filtros aplicáveis aos dados, o que pode causar confusão no leitor. Os números podem se referir a diferentes contextos, como toda a Unidade da Federação, escolas privadas ou públicas, e podem focar apenas no IP ou no IN. Por isso, é importante ter cuidado na interpretação, para evitar impressões erradas de melhoria ou piora. Temos sempre optado por focar nos dados da rede que está sob nossa gestão, evitando a apropriação indevida de resultados alheios.
O quarto comentário é sobre o que Ideb não mostra. É possível que um Ideb alto esconda enormes desigualdades entre escolas, turmas e estudantes. Um pequeno grupo pode distorcer para cima o resultado da rede. Embora o IP e o IN se controlem mutuamente, ambos não conseguem garantir equidade.
Para aumentar a equidade, portanto, é preciso deliberadamente ter esse objetivo como meta. Nesse ponto, o Ideb de 2023 também mostrou que o Ensino Médio público do nosso Estado é o mais igualitário do país. Ou seja, aqui é onde há a menor diferença entre as notas das escolas.
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