Graças aos avanços da tecnologia e da ciência, a palavra “câncer”, hoje em dia, assusta menos do que há 30 anos. Até um passado não muito distante, muitas pessoas se recusavam até mesmo a pronunciar o nome dessa patologia, tamanho o estigma associado a uma doença que, por muito tempo, foi considerada incurável. Hoje, no entanto, em um percentual considerável de casos, um diagnóstico de câncer não é mais uma sentença de morte.
Ao traçar uma linha do tempo da história dos tratamentos contra o câncer, a primeira das opções modernas que conhecemos hoje foi a radioterapia, surgida no final do século 19. Posteriormente, na década de 1940, a quimioterapia surgiu e se firmou como outra grande alternativa no combate à multiplicação de células cancerosas no organismo humano.
Desde então, o homem passou a sonhar com uma solução em que o próprio organismo humano pudesse identificar e combater o câncer. Uma técnica em que fosse possível amplificar a ação de estruturas de defesa do próprio corpo no sentido de eliminar as células doentes.
Eis que, nos últimos anos, com os avanços nas terapias gênicas, a imunoterapia Car-T Cell se mostrou uma opção mais do que promissora, viável. Essa se tornou uma das maiores esperanças da comunidade médica e dos pacientes para o tratamento de determinados tipos de câncer, incluindo aí alguns tipos de neoplasias hematológicas.
O método Car-T Cell consiste em extrair uma determinada célula, chamada linfócito T, do organismo do paciente, e alterá-la geneticamente em laboratório. Após esse processo, esses linfócitos são aplicados de volta no corpo do paciente, por via endovenosa, só que geneticamente “treinados” para identificar e eliminar as células do câncer.
Essa abordagem representa um avanço enorme para o tratamento dos cânceres contra os quais ela demonstrou viabilidade. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso dessa técnica no Brasil, para o combate do mieloma múltiplo.
Para nós, médicos, que trabalhamos na linha de frente do tratamento oncológico, os avanços relacionados à imunoterapia são louváveis e podem proporcionar a chance, no futuro, de tratamentos cada vez mais assertivos e personalizados, com as enormes possibilidades que a terapia gênica oferece.
Essa linha de tratamento pode, futuramente, permitir que o combate ao câncer tenha cada vez menos efeitos colaterais e se dedique a atingir alvos determinados, causando menos prejuízos a células de tecidos saudáveis. Por mais que tenham evoluído, a quimio e a radioterapia não conseguem atacar exclusivamente as estruturas doentes, causando efeitos colaterais indesejáveis a boa parte dos pacientes.
No entanto, para que esse tão sonhado futuro possa se tornar realidade, a imunoterapia ainda esbarra em um grande obstáculo: seu alto custo. O recém-aprovado tratamento Car-T Cell no Brasil tem o custo unitário de mais de R$ 3 milhões, segundo matéria do jornal O Globo, e ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para que possamos avançar ainda mais e facilitar o acesso de mais pessoas a esse tipo de tratamento, é preciso que o governo, o setor tecnológico e as universidades brasileiras se reúnam na formação de grupos de trabalhos que incentivem o desenvolvimento da ciência, de forma a criar um ambiente em que as pesquisas possam a ajudar a reduzir os custos desse tipo de terapia.
Como um fruto da universidade pública brasileira, reconheço que o potencial da nossa comunidade médica e científica é imenso. O que precisamos agora é nos organizarmos para transformar vidas através dos avanços da medicina.
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