A vulnerabilidade social é um problema complexo que afeta profundamente o cotidiano das cidades brasileiras. Efeito direto da enorme desigualdade social existente no país, ela expõe diretamente boa parte da população à pobreza em suas diversas dimensões, como a financeira, a insegurança alimentar, a falta de acesso a serviços públicos de qualidade, a violência e a falta de oportunidades.
Esse cenário se torna ainda mais desafiador após a pandemia da Covid-19, que aprofundou as desigualdades, tornando ainda maior o abismo entre ricos e pobres, atingindo em especial as mulheres e jovens. Um estudo chamado “Caracterização da Crise no Brasil”, feito pela Fundação Arimax em 2021, identificou que mais de 28 milhões de pessoas viviam em situação de pobreza e extrema pobreza no Brasil. O estudo também mostrou que 43,4 milhões de brasileiros enfrentam algum nível de insegurança alimentar, e deste percentual 19,1 milhões de pessoas não tem nenhuma garantia alimentar nas próximas 24 horas.
Outro efeito devastador desse cenário é a falta de perspectiva de futuro, ocasionada pelo baixo número de políticas que tenham foco direto na geração de oportunidades para que as novas gerações consigam ultrapassar tal condição. Estudos do Sebrae e do IBGE demonstraram que menos de 7% dos empreendedores brasileiros são jovens. Por outro lado, no público jovem a taxa de desemprego chega a 29,5% (nas outras faixas etárias produtivas varia entre 10% e 15%). Entre os desalentados, público que trabalha poucas horas ou desiste de procurar emprego, 42% estão dentro dessa faixa etária.
Não por acaso, essa falta de perspectiva reflete diretamente nos indicadores de segurança pública, seja pelo envolvimento cada vez maior de jovens pretos e pardos com o tráfico de drogas, seja pela enorme (e triste) proporção desse público entre as vítimas de mortes violentas.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), entre os meses de janeiro e junho deste ano, 763 menores foram apreendidos por envolvimento com o tráfico de drogas no Estado. O número praticamente repete o desempenho do ano anterior, representando 51% das mesmas apreensões realizadas em todo o ano de 2022, quando 1.481 adolescentes foram apreendidos pelo mesmo tipo de crime.
O cenário é complexo, mas é importante ressaltar que existem soluções, e o principal caminho sem dúvida é a oferta ampliada e customizada de oportunidades para a juventude. A partir de uma escuta genuína de suas necessidades, é possível construir parcerias eficazes envolvendo Estado, setor privado e organizações do terceiro setor com foco em gerar oportunidades de qualificação profissional, fortalecimento de vínculos, acesso ao primeiro emprego e acesso ao crédito para empreender.
No Norte do Espírito Santo, um exemplo positivo de como o setor privado pode contribuir para a diversificação econômica e a geração de oportunidades de trabalho e renda para públicos vulneráveis é a parceria entre Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), por meio do Sesi e do Senai, com a Suzano.
Somente em 2023, quase 3 mil pessoas já participaram de cursos de qualificação viabilizados por essa parceria, a partir da adaptação de programas de formação profissional para a realidade de jovens, comunidades rurais, tradicionais e urbanas. Além dessa colaboração, a Suzano vem atuando na formação de 62 jovens lideranças comunitárias por meio do projeto Juventudes Multiplicadoras, beneficiando mais de 30 comunidades rurais e quilombolas e propiciando a certificação técnica associada ao fortalecimento institucional e comunitário de associações locais.
Outras empresas do Espírito Santo também oportunizam que jovens e pessoas em vulnerabilidade social tenham o seu primeiro emprego ou que aprendam uma profissão. Podemos citar a EDP com a “Escola para Eletricistas para Mulheres” e a “Escola de Eletricistas para Pessoas Trans”; a Gerdau com o “Empodera Elas”; a ArcellorMittal com seu programa de diversidade e aumento de liderança feminina na empresa; e a Petrobras com seu programa de mentoria para o desenvolvimento de mulheres líderes, apenas para citar algumas iniciativas.
Vale destacar também a potência existente nas parcerias realizadas entre setor privado e organizações do terceiro setor. Uma delas teve início em março deste ano. A Findes, por meio do Senai, em parceria com o Instituto Oportunidade Brasil (IOB) e a Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on) ofertaram 200 vagas em qualificação em Programação Web para mulheres em situação de vulnerabilidade social nas duas primeiras edições do “Senai Tech pras Manas”.
Essas são apenas algumas das ações que vêm sendo realizadas pelas indústrias capixabas focadas em estimular a inclusão e a qualificação dos grupos que mais precisam de apoio para construírem uma nova realidade. Todas as ações citadas são exemplos de um movimento imprescindível para o enfretamento à vulnerabilidade social, onde diversos atores trabalham em uma única direção: reduzir a pobreza e gerar oportunidades para todos.
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