A inovação sempre foi o motor do progresso, impulsionando mudanças sociais, tecnológicas e econômicas. No entanto, apesar de tantos avanços, a presença feminina nesse cenário ainda é marcada por desafios estruturais que limitam seu potencial. As mulheres desempenham múltiplos papéis (profissionais, mães, líderes, cuidadoras) e, ainda assim, encontram barreiras invisíveis que restringem seu acesso a posições estratégicas e de tomada de decisão no universo da inovação.
O livro "Mulheres Invisíveis", de Caroline Criado Perez, revela como dados utilizados para desenvolver produtos, políticas e soluções frequentemente ignoram as necessidades femininas. A ausência de mulheres em posições-chave perpetua essa lacuna e priva o mercado de soluções mais eficazes e inclusivas. Pesquisas médicas realizadas predominantemente em homens e testes de segurança veiculares com manequins masculinos são apenas alguns exemplos dessa falta de diversidade, que pode gerar impactos reais e até letais.
No ambiente corporativo, a inovação se fortalece quando há diversidade de gênero. Sheryl Sandberg, em seu livro "Faça Acontecer", destaca a importância de as mulheres se posicionarem e assumirem protagonismo, mas aponta a necessidade de ambientes que apoiem esse avanço.
Estudos têm indicado que empresas com diversidade de gênero têm melhor desempenho financeiro e maior capacidade de adaptação em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico. Incluir mulheres não torna a inovação apenas disruptiva, mas também mais humana e representativa.
Entretanto, apesar das evidências, a carga mental e emocional das mulheres ainda influencia sua permanência e ascensão no mercado. Muitas enfrentam jornadas duplas ou triplas, equilibrando trabalho e responsabilidades domésticas e familiares sem uma divisão equitativa. O mercado de inovação precisa não apenas abrir espaço, mas repensar suas estruturas para permitir que mulheres cresçam sem precisar escolher entre carreira e vida pessoal.
Um exemplo desse desafio é a retomada do trabalho presencial em grandes empresas, especialmente no setor de tecnologia, onde a liderança masculina ainda predomina. O modelo híbrido e remoto demonstrou ser uma alternativa viável para aumentar a produtividade e equilibrar demandas profissionais e pessoais.
Contudo, a imposição do retorno ao escritório ignora as realidades enfrentadas por muitas mulheres, que passaram a contar com essa flexibilidade para sua permanência no mercado. Além disso, reforça uma visão tradicional de trabalho que desconsidera os benefícios de formatos mais dinâmicos e adaptáveis.

Para que o mercado seja verdadeiramente inovador e justo, é essencial que políticas de trabalho sejam desenhadas com equidade, considerando diferentes realidades e desafios. O caminho para um ambiente mais inclusivo passa pela revisão de políticas institucionais, pelo incentivo a modelos flexíveis e pela conscientização coletiva sobre a importância da equidade.
Inovação não é apenas sobre tecnologia ou negócios; é sobre criar soluções que impactam positivamente toda a sociedade. E, para que isso aconteça, é fundamental que mulheres estejam não apenas presentes, mas plenamente engajadas e reconhecidas por suas contribuições.
A reflexão que fica é: a inovação pode continuar avançando sem a plena participação das mulheres? Se os desafios são evidentes e os benefícios comprovados, o que impede uma mudança estrutural? A resposta está na capacidade coletiva de transformar discursos em ação, garantindo que a inovação seja, de fato, para todos.
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