Quando, na história contemporânea brasileira, as pessoas utilizaram tanto sua casa como atualmente? Começo com essa pergunta, pois, como arquiteto e urbanista, me peguei a pensar como as pessoas têm vivido sua casa nesse momento de pandemia? Será que como espaço de apoio... ou de confinamento?
Os principais fatores que influenciam o bom funcionamento de uma casa e sua salubridade estão ligados diretamente com a boa utilização do sol, do vento e das boas práticas construtivas. Ter paredes com acabamento, janelas e portas voltadas para a insolação correta, ventilação cruzada e um pequeno jardim são soluções arquitetônicas básicas para se obter uma casa saudável.
Essa boa arquitetura auxilia na salubridade da casa, ou seja, pode livrá-la do mofo, infiltrações e poeira acumulada, o que ajuda na manutenção da saúde física e mental das pessoas, pois além de estarem em contato com os elementos naturais, como o sol e o vento, também conseguem transformar seus lares em locais de satisfação pessoal.
Mas ao identificar que uma casa pode ajudar as pessoas a atravessarem esse período de isolamento social de forma saudável, por outro lado, pode ser um grande desafeto à lembrança de viver isolado. Já que a salubridade é a equação ideal, se traçarmos uma linha comparativa entre as casas projetadas e as construídas sem quaisquer referências técnicas de arquitetura, conseguiremos perceber quem poderá ter mais salubridade neste período e quem terá menos.
Historicamente as cidades do Brasil, bem como as da América Latina, foram construídas sem planejamento e direcionamento, portanto, a casa da maioria dos brasileiros ainda é construída sem orientação e projeto de arquitetura, as conhecidas as autoconstruções.
Mas não se trata de uma exclusividade da periferia, pois as grandes construtoras e incorporadoras, muitas vezes, abrem mão das boas práticas de arquitetura, usando todas as taxas mínimas e máximas possíveis que a legislação permite, ao invés de construir e vender apartamentos mais humanos, sobrepondo o valor do m² à vida das pessoas.
O isolamento social vai nos mostrar e determinar muita coisa para o futuro da arquitetura residencial e da construção civil, pois entenderemos da maneira mais difícil que viver e estar em uma casa não é simplesmente construí-la, e sim erguê-la de maneira eficiente, funcional e salubre. Apesar dos pesares, a Covid-19 nos mostrará que a arquitetura precisa com urgência acessar as autoconstruções e ordenar a construção de edifícios mais humanos.
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O autor é arquiteto e urbanista e conselheiro do IAB-ES.
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