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É pastor, professor, escritor e doutor em ciências da religião

Jejum e política: o uso perverso da fé evangélica

O uso político da fé distorce o lugar da religião na esfera pública, revela-se como mau uso da tradição cristã e, consequentemente, será cobrado pela história

  • Kenner Terra É pastor, professor, escritor e doutor em ciências da religião
Publicado em 12/09/2022 às 16h01

Viralizou nestes dias o vídeo de um conhecido pastor que, segundo ele, depois de dois períodos de jejum se sentiu compungido a defender a candidatura de Bolsonaro. Perdoem-me os que não são da religião cristã, para aos quais o tema do jejum não faz muito sentido, mas é importante apontar o equívoco dessa declaração.

Na Bíblia, quando se fala de jejum, nunca aparece como instrumento para fazer escolhas políticas. Essa importante prática religiosa sempre serviu de contrição e dedicação espiritual. Ou seja, qualquer coisa que eu diga que farei por ter sido orientado por jejum é uma escolha pessoal e não de Deus. Ele não é responsável por nossas escolhas políticas. Usá-lo para isso é ir muito além dos limites da Escritura e chegar até a zona dos nossos interesses ideológicos.

A mesma Bíblia chamaria tal atitude de uso em vão do nome divino. Aliás, segundo o profeta Isaías, este é o verdadeiro jejum: “Porventura o jejum que escolhi não foi este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, que deixes livres os oprimidos e despedaces todo o jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” (Is 58). Ou seja, o jejum bíblico é social e a aplicação da equidade, e não instrumento de manipulação ideológica.

O uso político da fé evangélica distorce o lugar da religião na esfera pública, revela-se como mau uso da tradição cristã e, consequentemente, será cobrado pela história.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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