A promessa de ficar rico rápido e de forma fácil é antiga. Jogos de azar sempre existiram nos mais diferentes aspectos: (i) escolher a bolinha debaixo de um dos três copos, (ii) roletas financeiras, nas quais, no final, quem ganha é o dono da roleta, (iii) cassinos com suas incontáveis máquinas “caça-níqueis” e mesas de “21”, entre tantos outros. O assunto não tem nada de novo, nem de surpreendente.
O que fazem esses jogos on-line, na realidade, é atualizarem a antiga forma de jogos de azar, mas obviamente os personagens são sempre os mesmos: o incauto que quer ficar rico rápido e de forma fácil e o astuto que sempre ganha na operação.
A regulamentação desses tipos de jogos deve servir apenas para legalizá-los, tributá-los e permitir “regras” claras aos usuários de suas plataformas. A reflexão sobre esses jogos de azar, todavia, deve ser mais ampla.
A pergunta é: diante da óbvia constatação de que jogos de azar servem apenas para tirar dinheiro do bolso do usuário e transferir ao bolso do dono do jogo, por que há tantas e tantas pessoas acreditando nesse “canto da sereia”?
Não apenas os chamados jogos de azar fazem esse sucesso estrondoso. Basta pensarmos na Loteria Federal — que não é um jogo de azar — na qual as chances de ganhar são praticamente nulas, para não dizer realmente nulas. Mas, afinal, por que tantos brasileiros insistem nessas apostas inúteis?
Creio que a resposta passe pela absoluta falta de conhecimentos financeiros básicos de uma grande parte da população brasileira. Verifique-se o resultado da pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) a quantidade pessoas que apostam em jogos on-line (como o “Jogo do Tigrinho”, por exemplo) é sete vezes mais do que a quantidade de pessoas que investem em empresas listadas na Bolsa de Valores. Isso já demonstra um alerta vermelho da “ignorância financeira” presente em nosso país.
A sanha por dinheiro rápido em vez de investimentos visando ao longo prazo é algo muito entranhado, de forma geral, ao brasileiro. Dia desses um parente meu me afirmou que há 45 anos aposta na Loteria da Caixa. Pensei com meus botões: imagine todo esse dinheiro investido em uma renda fixa segura qualquer. Talvez hoje ele não estivesse reclamando do valor pequeno que recebe do INSS. E é engraçado como essas histórias se repetem com frequência.
Dinheiro deve ser sinônimo de ferramenta para alcançar a liberdade; deve corresponder a um meio para alcançar-se um fim. E sim, por mais que livros de autoajuda e “coaches” de internet digam o contrário, só se ganha dinheiro com consistência, olhando-se o lonho prazo. Ficar rico rápido é só um engodo para atrair pessoas para a arapuca traiçoeira dos jogos de azar e quejandos.
Lembrem-se de duas coisas, caros leitores: dinheiro não aceita desaforo e dinheiro rápido é historinha para boi dormir. Sejam livres verdadeiramente por meio da ferramenta financeira certa, sempre aos poucos e visando ao longo prazo.
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