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'Jogo do Tigrinho': por que tanta gente insiste nessas apostas inúteis?

Dinheiro não aceita desaforo e dinheiro rápido é historinha para boi dormir. Sejam livres verdadeiramente por meio da ferramenta financeira certa, sempre aos poucos e visando ao longo prazo

  • João Paulo Barbosa Lyra É advogado
Publicado em 02/08/2024 às 10h34

A promessa de ficar rico rápido e de forma fácil é antiga. Jogos de azar sempre existiram nos mais diferentes aspectos: (i) escolher a bolinha debaixo de um dos três copos, (ii) roletas financeiras, nas quais, no final, quem ganha é o dono da roleta, (iii) cassinos com suas incontáveis máquinas “caça-níqueis” e mesas de “21”, entre tantos outros. O assunto não tem nada de novo, nem de surpreendente.

O que fazem esses jogos on-line, na realidade, é atualizarem a antiga forma de jogos de azar, mas obviamente os personagens são sempre os mesmos: o incauto que quer ficar rico rápido e de forma fácil e o astuto que sempre ganha na operação.

A regulamentação desses tipos de jogos deve servir apenas para legalizá-los, tributá-los e permitir “regras” claras aos usuários de suas plataformas. A reflexão sobre esses jogos de azar, todavia, deve ser mais ampla.

A pergunta é: diante da óbvia constatação de que jogos de azar servem apenas para tirar dinheiro do bolso do usuário e transferir ao bolso do dono do jogo, por que há tantas e tantas pessoas acreditando nesse “canto da sereia”?

Não apenas os chamados jogos de azar fazem esse sucesso estrondoso. Basta pensarmos na Loteria Federal — que não é um jogo de azar — na qual as chances de ganhar são praticamente nulas, para não dizer realmente nulas. Mas, afinal, por que tantos brasileiros insistem nessas apostas inúteis?

Creio que a resposta passe pela absoluta falta de conhecimentos financeiros básicos de uma grande parte da população brasileira. Verifique-se o resultado da pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) a quantidade pessoas que apostam em jogos on-line (como o “Jogo do Tigrinho”, por exemplo) é sete vezes mais do que a quantidade de pessoas que investem em empresas listadas na Bolsa de Valores. Isso já demonstra um alerta vermelho da “ignorância financeira” presente em nosso país.

Plataforma do Jogo do Tigrinho, Fortune Tiger
Plataforma do Jogo do Tigrinho, Fortune Tiger. Crédito: Reprodução

A sanha por dinheiro rápido em vez de investimentos visando ao longo prazo é algo muito entranhado, de forma geral, ao brasileiro. Dia desses um parente meu me afirmou que há 45 anos aposta na Loteria da Caixa. Pensei com meus botões: imagine todo esse dinheiro investido em uma renda fixa segura qualquer. Talvez hoje ele não estivesse reclamando do valor pequeno que recebe do INSS. E é engraçado como essas histórias se repetem com frequência.

Dinheiro deve ser sinônimo de ferramenta para alcançar a liberdade; deve corresponder a um meio para alcançar-se um fim. E sim, por mais que livros de autoajuda e “coaches” de internet digam o contrário, só se ganha dinheiro com consistência, olhando-se o lonho prazo. Ficar rico rápido é só um engodo para atrair pessoas para a arapuca traiçoeira dos jogos de azar e quejandos.

Lembrem-se de duas coisas, caros leitores: dinheiro não aceita desaforo e dinheiro rápido é historinha para boi dormir. Sejam livres verdadeiramente por meio da ferramenta financeira certa, sempre aos poucos e visando ao longo prazo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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