203. Essa é a quantidade de vezes em que a polícia foi confrontada por criminosos armados nos primeiros cinco meses deste ano. A média é de mais de um confronto por dia.
14 a 29 anos. Essa é a faixa etária da maior parte dos homicidas e traficantes presos ou apreendidos no Espírito Santo.
A criminalidade juvenil ultrapassou todos os limites.
Quando falamos em criminalidade juvenil, não trabalhamos com achismos. Que a sociedade brasileira vive em um abismo econômico e social não é novidade para nenhum de nós, mas quando ele se torna palpável, invade os noticiários e perturba a ordem pública, muitos têm dificuldade em ouvir as verdades que precisam ser ditas.
O Brasil deve aos nossos jovens, indubitavelmente aos mais pobres. Historicamente, nossa nação peca pelo baixo investimento em educação de qualidade e políticas de valorização social. O resultado a longo prazo é a realidade que vivemos hoje, uma juventude pobre, sem instrução básica e sequestrada pelo tráfico de drogas, portando armas pesadas, confrontando o aparato policial do Estado de forma inconsequente, morrendo e matando sem qualquer vestígio de comoção, senso de responsabilidade ou visão de futuro.
Comoção há para pais e mães que veem seus filhos dentro de caixões, como presenciei pessoalmente em Linhares, nesta semana. Seres humanos, que já sofrem tanto com a pobreza, com a falta de oportunidades, se veem reféns ao perderem seus filhos para a criminalidade.
Do outro lado está o cidadão honesto e trabalhador que paga seus impostos e está subjugado por uma criminalidade juvenil extremamente violenta. Um idoso morto por uma bala perdida no leito de um hospital é o que poderíamos enxergar de mais absurdo no cotidiano de quem lida com segurança pública.
O fiel da balança, quando o conflito está conflagrado, não é menos humano que os lados já citados. Policiais saem de casa todos os dias, deixando suas famílias para garantir a segurança de toda uma sociedade. São eles que vão ao encontro do perigo, se colocando em risco diariamente. Com treinamento, técnica, mas sem peito de aço. Com braços, pernas e coração, como qualquer ser humano.
A pergunta que fica: para onde, então, nossa sociedade está caminhando? Sem um debate verdadeiro, o futuro é temerário. Não podemos esquecer da dívida histórica, ao mesmo tempo em que não podemos nos esquivar de adotar medidas enérgicas e urgentes para impedir que mais jovens sejam enredados por grupos criminosos que lucram com a barbárie social.
A longo prazo, as políticas sociais precisam ser pensadas para oferecer às novas gerações a chance de enxergar as oportunidades que existem além dos muros da miséria. Mas hoje, para salvar o que nos resta de civilidade, é urgente que se amplie o debate acerca da criminalidade juvenil envolvendo todos os atores. Precisamos do Poder Judiciário e do Ministério Público, de cujos avais as polícias dependem para aplicar a lei.
Mais que isso, a segurança pública necessita da mobilização imediata do Poder Legislativo federal, para que possamos reformular a legislação penal lenta, ultrapassada e extremamente benevolente que, hoje, baliza (quase impedindo!) o trabalho de todo o aparato de segurança. Sem uma mudança legislativa urgente, continuaremos reféns dessa realidade absurda, em que jovens aterrorizam trabalhadores, confrontam a polícia e destroem suas famílias. Uma realidade que só interessa ao crime organizado.
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