Todos somos suscetíveis à morte. Da mesma forma, todos estamos sujeitos a perder um ente querido. A jornada do luto é uma realidade que, em algum momento da vida, qualquer pessoa enfrenta. Considerando essa verdade no ambiente corporativo, vale refletir: será que as empresas estão de fato preparadas para lidar com colaboradores de luto?
A dor literal dos trabalhadores é também uma dor para as organizações (aqui, no sentido de uma falha que precisa ser sanada). Hoje, a maior parte das empresas se limita a, diante dessa fase sensível na vida dos colaboradores, conceder o afastamento por falecimento, previsto em lei, e expressar os pêsames. No retorno deles ao trabalho, a rotina volta ao normal, mesmo que, emocionalmente, essa não seja a realidade de quem passou pela perda.
Por mais que em alguns casos a morte de um ente querido pareça algo mais previsível, ela é sempre uma vivência delicada e, dependendo da relação construída em vida, demanda bastante tempo para ser superada. O luto possui vários estágios e, quando patológico, demanda acompanhamento e até tratamento.
A questão é como as empresas enxergam essa realidade. É preciso abordar o tema e, mais do que isso, moldar a cultura das organizações de forma a tratá-lo com mais empatia. Isso porque, de colegas a líderes e gestores, muitos não sabem como tratar o enlutado. E essa experiência fica marcada para a pessoa que está passando por esse sofrimento, seja através da lembrança afetuosa de quem a acolheu, seja pela memória negativa relacionada a quem foi insensível diante da situação.
Além do impacto no vínculo emocional do colaborador com a empresa e com o ambiente e os colegas de trabalho, há reflexos na produtividade dele e, consequentemente, nos resultados alcançados. Mais do que por uma questão de empatia e humanidade, lidar de forma adequada com o luto dos colaboradores é uma questão estratégica.
O profissional de luto tenta se dividir entre conseguir cumprir as responsabilidades profissionais e lidar com um misto de sentimentos intensos e complexos. Estudos mostram que um profissional de luto enfrenta, naturalmente, dificuldades para se concentrar e tomar decisões e tem a produtividade reduzida de forma considerável.
Quando a empresa compreende isso e se faz presente nessa jornada da vida do colaborador, contribui para que ele recupere o desempenho mais rapidamente e cria com ele uma conexão para além do vínculo profissional.
Não é à toa que existem no mercado programas de bem-estar emocional desenvolvidos especificamente para cuidar dos colaboradores durante a jornada sensível do luto. Mais do que acolhê-los quando a perda acontece, identificam o impacto dela no bem-estar dos trabalhadores e os acompanham e psicoeducam no processo de superação.
A saúde emocional dos profissionais está diretamente relacionada às fases sensíveis que eles vivenciam também fora do trabalho. Consequentemente, enxergá-los de maneira integral e humanizada é fundamental para o sucesso das empresas que dependem de, mais do que simplesmente trabalhadores, seres humanos equilibrados e saudáveis.
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