Já parou para pensar que a sua face é a parte que mais representa a sua singularidade e as formas como você se sociabiliza enquanto indivíduo? Ao sorrir, podemos agraciar o dia de alguém; ao fechar a cara, podemos passar um ar um tanto quanto ríspido; ao chorar, causamos reações diversas em quem nos observa; quando amamos, vemos no outro um olhar diferente; quando estamos aflitos, também.
Cada peculiaridade da nossa face representa algo e, assim, nos identifica, seja por gênero, cor, idade e outras características. Ao nos olharmos no espelho, ainda que de corpo inteiro, é por meio da nossa face que vamos exprimir alguma sensação, seja de apreciação ou não da imagem refletida.
Sim, nossas identidades são também esculpidas pela nossa imagem, são transmitidas e codificadas. Faces reconhecidas, amadas, odiadas, aclamadas ou anônimas, todos nos vemos assim. Até pelo toque, ainda que de olhos fechados, a face é a porta de entrada para a identificação.
Em tempos de redes sociais, faces são o foco de atenção, foco de socialização, de busca por reconhecimento – capricho do ego – revestidas de filtros e transformações. Vivemos uma era de máscaras sociais, concordam?
Digo não no sentido pejorativo, mas há uma nova caracterização do eu ou dos “eus”. Podemos ser vários em um, um em vários. Podemos ter olhos azuis ou verdes. Cabelos loiros ou morenos, isso sem nenhuma intervenção física, apenas digital.
Nos perguntamos quem de fato somos ou queremos ser, nos identificamos ou não com a imagem do próximo e, assim, nos reunimos em grupos que simpatizam com as nossas ‘máscaras’.
Em tempos de pandemia, as verdadeiras faces foram tomadas por panos e materiais coloridos, distintos, neutros, e elas também traduzem um pouco do que somos. Torcedores, românticos, roqueiros, personagens infantis estampados…
Assim também nos reconhecemos. A máscara se torna um emblema de significações, traduzindo, de forma enigmática, uma diferenciação individual.
Podemos também ser invisíveis. Quem aqui nunca disfarçou um sorriso, uma fala inapropriada ou um desagrado por de trás das máscaras?
Para Le Breton, “nas nossas sociedades o princípio de identidade se localiza essencialmente sobre o rosto. Desfazer-se desse rosto utilizando-se de uma máscara, um véu, uma acentuada maquiagem é um ato de grande força, por meio do qual o indivíduo pode, até mesmo sem querer, ter cruzado o limiar para uma metamorfose. O apagamento da face desperta um sentimento próprio dos jogos, da transgressão, da transferência de personalidade”.
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Qual a sua “persona” embaixo da máscara?
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