Um ano que, dizem, não vai terminar, mas que, na verdade, nem começou. Que apesar de ser par está sendo um ano ímpar. Que distanciou os próximos e aproximou os distantes. Que limitou viagens, mas permitiu irmos a vários locais em um mesmo dia, sentados na mesma cadeira. Que fechou escritórios, manteve as pessoas em casa e mudou o conceito de trabalho.
Um ano que favoreceu fisioterapeutas, otorrinos, oculistas, nutricionistas e, principalmente, psicólogos, para suportar novos hábitos e desajustes funcionais. Um ano em que todos nos tornamos profundos conhecedores de infectologia e passamos a opinar nos tratamentos disponíveis. Ano em que perdemos alguns bons amigos e nos alegramos pela recuperação de muitos deles.
Um ano que limitou o networking, mas aumentou o working na Net. Um ano em que, depois de tanto usar delivery, a ida ao supermercado virou um programa e, em alguns casos, uma ida à estratosfera pelos preparativos para começar e terminar a viagem. Um ano em que a parte do corpo de maior contato com o álcool deixou de ser a boca e passou a ser a mão, em que o Google fez as provas de muitos alunos e os funcionários, ao invés de deixarem o paletó na cadeira do escritório, passaram a deixar uma foto no Zoom.
Enfim, depois dessas e de outras tantas “novidades” será que podemos avaliar 2020 e ter esperanças em 2021?
Apesar dos pesares, muita coisa aconteceu e há uma luz no fim do túnel. Estou otimista. Existem muitas linhas n’água e muitas oportunidades à nossa volta. Temos muitos pontos fortes, conhecemos nossos pontos fracos e, o fato de termos aprendido a reconhecer nossas fraquezas na pandemia, acaba sendo também um ponto forte.
A Covid-19 causou mudanças em série, afetando globalmente todos os setores da economia como a redução da demanda de petróleo a níveis nunca vistos, a queda significativa no PIB mundial, a corrida contra o tempo no desenvolvimento de vacinas, o desemprego em massa e o desabastecimento em muitos segmentos. Muitas atividades foram paralisadas por meses e outras ainda não retornaram e, talvez não retornem.
Olhando agora o copo meio cheio, muitos projetos estruturantes estão avançando como a Nova Lei do Gás, o Novo Marco do Saneamento, a Reforma Tributária, as privatizações e concessões, entre outros, que deverão contribuir para o reaquecimento da economia, já começando a ser percebida pela retomada do crescimento industrial verificada nos últimos meses.
No setor de energia, o programa de alienações da Petrobras, o Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (Reate), o Programa de Revitalização e Incentivo à Produção de Campos Marítimos (Promar), o Renova Bio, que é uma política de Estado que reconhece o papel estratégico de todos os biocombustíveis, a implantação de grandes projetos de geração eólica offshore e, mais recentemente, as perspectivas da inclusão do Hidrogênio, que surge como nova oportunidade na tendência de descarbonização das matrizes energéticas da maioria dos países, devem gerar muitas oportunidades de negócios. Tal fato traz reflexos importantes na geração de energia e na matriz logística, afetando, dentre outras, a indústria automobilística com reflexos importantes previstos já para o final desta década, com a proibição de motores à explosão na Europa.
Assim, tudo indica que, tão logo encontremos meios de mitigar os efeitos da Covid-19, seja por vacinas, seja por tratamentos eficazes, existem boas perspectivas para começar um novo ciclo de crescimento, em um novo normal, com mudança de paradigmas e busca de novas rotas, muitas delas aprendidas nesses dias difíceis que estamos passando. A responsabilidade pela retomada está em nossas mãos.
O autor é diretor de Petróleo, Gás Natural, Bioenergia e Petroquímica da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)
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