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É médico geriatra

Mobilidade urbana: 43% dos idosos têm medo de cair na rua

Não é raro encontrar idosos com dificuldades para circular em vias, transporte público e estabelecimentos que não estão minimamente adaptados a pessoas com mobilidade limitada

  • Gustavo Genelhu É médico geriatra
Publicado em 21/06/2023 às 16h43

Condições de fragilidade, consequentemente, produzem sensação de insegurança. Quanto mais vulneráveis nos tornamos, mais comum é conviver com alguns medos.

Com o processo de envelhecimento, o indivíduo se torna mais propenso a debilidades, por conta das alterações biológicas e sistêmicas do organismo.

A velhice, contudo, é algo natural e esperado no curso da vida e, por isso, é fundamental que se crie condições para que pessoas idosas vivam com o máximo de segurança possível nos mais diferentes espaços. Afinal, esse é um direito que nem de longe se restringe apenas aos mais jovens.

Um estudo do Ministério da Saúde em parceria com a Fiocruz revelou que 43% dos idosos acompanhados pelos pesquisadores declararam ter medo de cair na rua devido aos defeitos nos passeios. E 36% contaram que se sentem inseguros ao atravessarem as ruas, devido ao trânsito de veículos.

Quando falamos em ambientes seguros para os idosos, essa condição, primeiramente, deve ser providenciada no ambiente residencial.

Boa parte das famílias, por falta de recursos ou até mesmo de conhecimento, não se prepara para abrigar seus idosos com segurança, mas é preciso levar em conta que aquele morador que no passado tinha toda a vitalidade, hoje apresenta limitações e problemas de saúde que comprometem sua mobilidade.

A ordem natural da vida nos leva a olhar para necessidades que antes não existiam, mas que agora precisam ser priorizadas. Não por luxo, tampouco por pura obrigação, mas por se tratar de oferecer um espaço protegido para aqueles que amamos e, graças a Deus, envelheceram e conosco permanecem.

E quando falamos em medo de andar na calçada, um espaço que deveria ser minimamente seguro para todos que transitam pelas vias públicas, isso diz respeito à mobilidade urbana. E essa dinâmica de locomoção deve e necessita oferecer espaços seguros para que todos os grupos de pessoas, não apenas os mais ágeis e saudáveis, possam circular sem medo.

 Fiações expostas em postes, árvores ou soltas pelas ruas e calçadas podem trazer perigo para quem circula pela cidade.
Calçada. Crédito: Vitor Jubini

É aí que a condição de segurança precisa ir para além dos cômodos das residências e seus quintais. Não é raro encontrar idosos com dificuldades para circular em vias, transporte público e estabelecimentos que não estão minimamente adaptados a pessoas com mobilidade limitada.

É indispensável que o planejamento das nossas cidades, vias urbanas e demais espaços públicos se tornem viáveis para qualquer pessoa que ali precise transitar,  idoso, deficiente, criança ou mães com filhos no colo.

E não se trata de favor, tampouco um ato de pura generosidade dos nossos representantes políticos e suas equipes nomeadas para planejar e executar ações que visem beneficiar a sociedade como um todo, e não apenas parte dela.

É sobre a obrigação de fazer valer a tributação arrecadada dos cidadãos para que nossas vias públicas não sejam lugar que remetem a medo e perigo, principalmente para quem tanto já viveu e só deseja desfrutar de uma velhice tranquila, com a liberdade de ir e vir para onde quiser e puder.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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