Um humano em um planeta degradado tem tanto direito à vida quanto um peixe num rio poluído.
Em setembro, um consórcio de pesquisadores (do qual participam as universidades de Helsinki, Stanford e Oxford, dentre outras) divulgou os resultados parciais de uma pesquisa com jovens de 16-24 anos em 10 países (Austrália, EUA, Reino Unido, Índia, Nigéria, Filipinas, Finlândia, Portugal, França e Brasil), registrando suas percepções sobre mudança climática, ações dos governos, percepção do impacto em suas famílias e no seu futuro.
A imprensa destacou que 39% dos jovens (48% no Brasil) hesitam em terem filhos devido às mudanças climáticas. De 16 questões centrais, em 9 os brasileiros foram os mais pessimistas, e em 6 o segundo lugar. Em seguida, as Filipinas (5 e 1, respectivamente). Jovens finlandeses são os mais otimistas, seguidos da Índia. Todavia, o "otimismo" médio é de no máximo ⅓ das respostas.
Parte dos jovens brasileiros estão atentos à imagem internacional do governo federal, de "inimigo do meio ambiente", e a sua imagem interna, associada a corrupção, má gestão da pandemia e piora do padrão de vida da população. Em resposta, negacionistas locais dirão que “o último inverno no Brasil foi um dos mais frios” e que isso foi “graças às queimadas”, para aplauso da imbecilidade terraplanista.
Desnecessário ser climatologista para perceber que há mais dias quentes a cada verão, chuvas menos espaçadas e mais intensas. Nenhum jovem brasileiro precisa ser ativista tipo Greta Thunberg para concluir que o último inverno no Brasil foi o mais seco em décadas, com redução dos níveis dos reservatórios, perdas agrícolas, inflação dos alimentos, aumento das tarifas de energia e iminência de blecautes.
Governos que trabalham para diminuir os danos das mudanças climáticas investem em regulação, pesquisa, novas tecnologias e fontes renováveis de energias. Negacionistas propagandeiam que inexiste mudança climática, mas é provável que a considerem inevitável. Talvez, semelhante aos efeitos de guerras por Malthus, a mudança climática resulte em “destruição criativa” schumpeteriana, nascendo um “próspero mundo novo” do gargalo populacional pós apocalíptico.
Deixar de herança às próximas gerações um saco de lixo ao invés do planeta preservado é moralmente inaceitável. No curto prazo as pessoas simples têm escolhas limitadas pelo modo como o sistema funciona, e menos por seu consumo e estilo de vida. Quanto maior o poder e a riqueza, menos incentivo à mudança. Num jogo em que o planeta e maioria das pessoas perdem, os poucos que lucram têm pouco incentivo para mudarem as regras.
Difícil de compreender a insistência em dissociar o direito à vida do direito a qualidade de vida, incluído o direito ao meio ambiente, direitos trabalhistas e direitos sociais (acesso à saúde, educação, água e saneamento, etc.). Jovens conscientes compreendem que ataque aos direitos significa redução de recursos e um futuro pior. Sentem que é difícil reagir, tornam-se inseguros e têm dúvidas sobre ter filhos.
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O fato concreto é que faltam e faltarão pessoas conscientes capazes de melhorar o mundo.
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