A semana iniciou-se com polêmica! O cantor Wesley Safadão compartilhou em suas redes sociais um vídeo em que pessoas encontram-se em sua casa, divertindo-se. Rapidamente, aqueles que veem o vídeo identificam a cena em que um homem abraça uma criança por trás, esta desvencilha-se e, ao deixá-la, tal homem abaixa sua camisa.
A sequência de comportamentos observados pelos internautas gerou reações de desconfiança quanto a um suposto abuso por parte do homem contra a criança. O vídeo foi tirado das redes pelo cantor, após um bombardeio de acusações de abuso sexual.
Vamos a algumas reflexões!
Iniciaremos com dados. No ano de 2020, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apresentou um estudo indicando que, do total de denúncias ocorridas no Disque 100 em 2019, 14% são de violações de direito das crianças e adolescentes. Dentro desse percentual, 11% são denúncias de violência sexual, ou seja, 17 mil ocorrências.
O estudo indicou também uma característica importante para o caso que estamos aqui refletindo: na maioria das vezes, o abuso ocorre no seio familiar e é realizado por pais, padrastos ou homens de confiança da família.
Importante deixar claro que a violência sexual é, na maioria das vezes, silenciosa, pois o abusador coage a vítima, indicando que fará mal a pessoas que ela ama caso conte sobre os abusos para alguém.
Outro ponto aqui a ser pensado é histórico. O homem indicado como abusador pelos internautas é pastor. Centenas de vezes na história nos deparamos com denúncias e crimes de violência sexual contra criança realizados por homens “dedicados a Deus”, que utilizaram sua posição justamente para conseguir o que desejavam. A questão é tão séria que no mês de junho de 2021 o Papa Francisco realizou a reforma do Código Canônico e tornou mais grave a punição por pedofilia.
O cantor saiu em defesa do pastor e a família da criança também. Indicam em suas falas a moral ilibada do homem e a relação de afeto quase que filial com a criança.
Então, será que os internautas exageraram?! Pode ser! Mas, ao juntarmos as informações aqui ofertadas sobre a violência sexual infantil, podemos perceber que há um imaginário social criado devido a milhares de crianças que são vítimas todos os dias desta violência. Talvez por isso, como um mecanismo de defesa coletivo, a sociedade torne-se mais punitiva.
Como psicóloga, acredito que o necessário é que a família olhe essa criança, pois não importa o que o Tribunal Virtual pensa, importa o que ela está sentindo. E é ela, sendo acolhida, sendo apoiada e não sendo revitimizada, quem vai apontar se aquele “abraço” não vai além de um abraço.
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Dois pontos são importantes para a prevenção desse tipo de violência. O primeiro é a educação sexual, por meio da qual a criança deve aprender o que é intimidade e quais os limites que precisam ser dados a seus corpos. O segundo é a abertura familiar, ou seja, a família tem que ser um local de acolhimento e segurança; a criança tem que ser ouvida e sua fala não pode ser descartada como uma fantasia. Se algo a incomoda, isso tem que ser trabalhado!
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