Mais comum do que se imagina, o abandono afetivo é aquele descompromisso sofrido que parte de quem, teoricamente, deveria estar ao nosso lado nas horas boas e ruins da vida.
Infelizmente, esse descuido emocional vem de quem menos esperamos e se manifesta nas situações mais diversas, entre elas a enfermidade. Não está errado quem diz que é nas horas difíceis que sabemos quem está realmente ao nosso lado.
De acordo com um estudo conduzido pelas universidades de Stanford e Utah, em conjunto com o Centro de Pesquisa Seattle Cancer Care Alliance, mulheres têm seis vezes mais chances de serem abandonadas pelos maridos após serem diagnosticadas com uma doença grave. Além disso, a pesquisa realizada em 2021 evidencia que, quando o marido é quem adoece, as mulheres continuam sendo as principais cuidadoras.
Essa realidade é comum, e muitos são os relatos de mulheres acometidas pelo câncer nos consultórios. Embora existam maridos companheiros, participativos, que auxiliam durante todo o tratamento, temos também o contrário: parceiros que não se fazem presentes mesmo estando dentro de casa, ou abandonam suas mulheres assim que elas recebem o diagnóstico.
Há histórias de pacientes que já tinham um relacionamento conturbado e o câncer foi a gota d'água. Outras achavam que viviam bem e, quando vem o diagnóstico, percebem que elas não são prioridade e que algumas escolhas do parceiro não estão relacionadas ao bem-estar da família em geral.
Sabemos que são muitos os fatores que levam a uma separação conjugal, e não cabe a ninguém fazer julgamentos, mas isso não é passaporte para a irresponsabilidade afetiva. Cada um pode abandonar o barco quando quiser, mas essa liberdade não elimina um possível lapso de caráter que, às vezes, passa muito tempo escondido, mas vem à tona na hora dos desafios mais severos.
Ninguém está 100% blindado de ter doenças, e as enfermidades um dia podem chegar para qualquer pessoa, e pode-se dizer que é unanimidade o fato de todos desejarem ser amparados se isso vier a acontecer.
Infelizmente, algumas jornadas que começam cercadas de amor se tornam lutas solitárias. Mas ao mesmo tempo que uma mão se encolhe, outras podem ser estendidas, e não vale se prender àquilo que sai de nossas vidas por vontade própria.
Nenhum abandono deve superar a vontade de viver e vencer os desafios da vida, em forma de doença ou de ingratidão. E, no fim, o que fica é o que realmente importa.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.