Famosos heróis dos quadrinhos, líderes das maiores equipes de super heróis da Terra, a Liga da Justiça (DC Comics) e os Vingadores (Marvel), esses heróis povoam e povoaram os sonhos de muitas crianças. Quem nunca quis ser um super-herói??
Mas, infelizmente, crescemos e passamos a constatar com tristeza que o mundo em que eles vivem é fictício, irreal, um mundo de sonhos. Apesar disso, eles continuam vivos e reais arrecadando bilhões de dólares pelo mundo afora. Afinal, todo mundo gosta de um bom super-herói!
Por outro lado, apesar de irreais, muitas das características desses heróis citados, desses líderes, podem ser extrapoladas e aplicadas na vida real, na vida prática da liderança. Foco, determinação, coragem, voluntariedade, presença marcante dos momentos de maiores dificuldades das equipes, e, principalmente, a disposição em tentar ser o exemplo para a sua equipe. Ser um exemplo a ser seguido talvez seja o maior desafio de um bom líder e, os que conseguem ser, exercem melhor e com muito mais facilidade suas lideranças.
Eu confesso que durante minha infância sonhava em ser o Superman! Não foram poucas as orações pedindo a Deus que me desse uma chance de ser. Deus sabe o que faz, sonda os corações e... felizmente ignorou meus pedidos.
Hoje, bem longe de ser um herói, lidero uma equipe de Medicina Intensiva, tendo cometido inúmeros e incontáveis erros no exercício da minha liderança. Mesmo assim em 2020 estou iniciando meu 14º ano à frente de uma equipe de UTI, particularmente nesse ano onde vivemos o momento mais crucial da história da Medicina Intensiva mundial. Seria uma Crise nas Infinitas Terras (Universo DC) ou a ameaça de Thanos (Universo Marvel) se fôssemos traçar um paralelo com os quadrinhos.
É sem sombra de dúvidas um momento dos heróis humanos aparecerem, terem a coragem e a personalidade necessárias para enfrentarem esse terrível vírus que nos assombra. Além de fé, da presença de Deus para guiar as minhas decisões, irei procurar empregar muitas das características desses heróis citados durante esse período. Tentarei sim ser um exemplo a ser seguido, não me faltará a coragem de enfrentar o vírus se necessário for, não me esconderei atrás do meu cargo para não pôr a “mão na massa” no combate direto ao coronavírus.
Mas diferentemente dos heróis destemidos e ficctícios, exercerei minha liderança com EXTREMA responsabilidade técnica sobre todos os meus liderados e seus familiares. Portanto senhores governantes desse país, não esperem de mim e da minha equipe atos heroicos IRRESPONSÁVEIS e desprotegidos. Não tentem me expor, nem a minha equipe, a riscos desnecessários relacionados às suas próprias incompetências gerenciais.
Iremos sempre estar prontos ao combate desse vírus, mas JAMAIS sem as nossas armaduras de defesa e nossas armas de ataque necessárias. Não esperem de mim e nem de minha equipe, um embate direto ao coronavírus sem todos os equipamentos de proteção individual em quantidades abundantes e fartas! Sem um planejamento de isolamento social devidamente remunerado desse combate. Afinal, sou apenas um bom médico, não o super-herói que sempre sonhei em ser!
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O autor é Intensivista, CRM 6332-ES. Coordenador das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim e do Hospital Evangélico Litoral Sul em Itapemirim.
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