Pablo Lira*
A industrialização tardia brasileira desencadeou um processo acelerado de urbanização na metade do século XX. Nesse período, as cidades se expandiram sem um planejamento urbano adequado.
Na primeira década do século XXI, a urbanização brasileira diminuiu o ritmo, até mesmo pelo adensamento populacional das grandes cidades e regiões metropolitanas. A transição urbana brasileira se encontrava em avançado estágio, com mais de 80% da população residindo em cidades. Em demografia, a transição urbana pode ser definida como o processo no qual a população urbana supera a população rural.
Nesse contexto de intensa expansão urbana brasileira, vários desafios demonstraram a necessidade de um olhar especializado, a saber, agravamento de desigualdades socioeconômicas, acirramento da segregação socioespacial e aumento da criminalidade violenta. Ainda nesse quadro, a mobilidade urbana configura como um dos principais desafios do país.
Estratégias econômicas de estímulo ao consumo, via a renúncia fiscal para a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), implementadas pelo governo federal, contribuíram para expandir ainda mais a frota de veículos no início da atual década. Todavia, a estrutura viária urbana não se ampliou suficientemente para comportar tal expansão.
A problemática da mobilidade brasileira pode ser compreendida a partir desse contexto. À luz da Política Nacional de Mobilidade Urbana, a priorização conjunta do transporte não motorizado e do transporte coletivo torna-se uma medida importante para mitigar os impactos desse fenômeno. A estrutura viária das cidades brasileiras não comporta o ritmo de expansão da frota de veículos. Tal priorização deve ser acompanhada de medidas estratégicas no âmbito do planejamento urbano.
Esse planejamento deve garantir condições viárias, ambientais e de acessibilidade que influenciem os cidadãos a diminuírem o uso do transporte motorizado e do transporte individual. Nos últimos anos, estamos observando melhores condições, porém ainda longe do adequado, para a expansão do modal cicloviário, por exemplo. Além disso, é relevante fortalecer a intermodalidade e a incorporação das novas tecnologias no transporte coletivo.
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) apresentam ferramentas que podem potencializar e inovar os serviços no transporte. Seja no desenvolvimento de aplicativos que possibilitem o geomonitoramento de ônibus, o que favorece uma maior eficiência ao sistema de transporte, seja na incorporação de componentes menos poluentes nos veículos, a tecnologia cumpre um papel elementar para a mobilidade no atual estágio da transição urbana.
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*O autor é doutor em Geografia, mestre em Arquitetura e Urbanismo e professor da UVV
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