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É arquiteto, urbanista e conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil/ES

Novo Parque da Prainha mostra que a participação popular é indispensável

Ela não apenas proporciona um senso de pertencimento e responsabilidade, mas também resulta em projetos mais inclusivos e sustentáveis, que refletem as expectativas e necessidades da comunidade

  • Greg Repsold É arquiteto, urbanista e conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil/ES
Publicado em 23/05/2024 às 16h26

A participação popular na elaboração de projetos de requalificação urbana é essencial para garantir que as intervenções urbanísticas atendam às reais necessidades da comunidade. O caso do Parque da Prainha, em Vila Velha, exemplifica a importância dessa participação e os desafios enfrentados quando ela é negligenciada.

A requalificação do parque canela-verde, recentemente inaugurada, chegou a ser embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) logo no início das obras, gerando atraso na entrega. Moradores também expressaram preocupações sobre o potencial turismo predatório e a escassez de árvores no projeto.

A inadequação do mercado de pescado, que, segundo a associação de pescadores, não atende às necessidades da comunidade pesqueira local, demonstra a falta de diálogo entre as autoridades e a população.

Esse cenário poderia ser diferente se houvesse uma participação mais efetiva da população na concepção e planejamento do projeto desde sua gênese. A participação popular não apenas proporciona um senso de pertencimento e responsabilidade, mas também resulta em projetos mais inclusivos e sustentáveis, que refletem as expectativas e necessidades da comunidade.

No Brasil, temos exemplos inspiradores de projetos de requalificação urbana que se beneficiaram da participação popular. O Parque Madureira, no Rio de Janeiro, é um excelente exemplo. Através de consultas públicas e oficinas comunitárias, os moradores puderam contribuir com ideias e sugestões que foram incorporadas ao projeto final. O resultado foi um espaço público vibrante, com áreas de lazer, esporte e cultura, que atende às diversas demandas da comunidade.

Outro exemplo notável é a Praça Victor Civita, em São Paulo. Transformada de um antigo lixão em um espaço verde e cultural, a participação ativa dos moradores e ONGs locais foi crucial para o sucesso do projeto. A praça agora é um modelo de sustentabilidade urbana e de como a cooperação entre governo e população pode gerar espaços públicos de alta qualidade.

A inclusão dos moradores no processo de planejamento urbano permite identificar e priorizar problemas específicos da área, bem como propor soluções que talvez não fossem consideradas pelos técnicos e gestores. Isso é particularmente importante em áreas de grande valor histórico e cultural, como é o caso do Parque da Prainha e tantos outros.

A requalificação urbana deve ser vista como um processo colaborativo, onde a comunidade tem voz ativa desde a fase inicial de planejamento até a implementação e gestão do espaço. Ferramentas como audiências públicas, consultas populares, workshops e fóruns de discussão são meios eficazes de engajar a população e garantir que suas preocupações e desejos sejam ouvidos e incorporados.

Fonte de água interativa no Parque da Prainha
Fonte de água interativa no Parque da Prainha, em Vila Velha. Crédito: Fernando Madeira

O exemplo do Parque da Prainha em Vila Velha destaca a necessidade urgente de fortalecer os mecanismos de participação popular nos projetos de requalificação urbana. Aprender com os sucessos de outras cidades brasileiras podem nos guiar na criação de espaços públicos que não apenas respeitem o patrimônio histórico e ambiental, mas que também promovam o bem-estar e a qualidade de vida dos seus habitantes.

Em última análise, a participação popular não é apenas um direito democrático, mas um componente vital para o sucesso e aceitação dos projetos urbanos. É responsabilidade também daqueles que desenvolvem tais projetos facilitar e promover essa participação, garantindo que nossas cidades sejam moldadas pelas mãos daqueles que nelas vivem e convivem.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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