Um assunto que interessa a todos, ou pelo menos já deveria estar entre os temas prioritários de qualquer um, é o aquecimento do planeta, que vem acontecendo paulatinamente e pode causar uma situação de calamidade mundial. Um assunto tão importante quanto uma nova e mais letal pandemia ou uma guerra nuclear.
O aquecimento da Terra é resultante do aumento da concentração de CO2 na atmosfera e de outros gases de efeito estufa, o que provoca mudanças climáticas. Entre as consequências temos, por exemplo, a elevação dos mares e, portanto, o risco de desaparecimento de partes importantes de continentes, além da intensificação de eventos como tormentas, tempestades, furacões, grandes incêndios, secas severas etc.
Tudo isso já existia, mas o aquecimento vem tornando estes eventos naturais mais críticos, frequentes e menos previsíveis. O Acordo de Paris está no ar e todos os países precisam trabalhar na direção da redução das emissões de gases de efeito estufa.
O Espírito Santo, neste cenário, emitiu em 2019 cerca de 30 milhões de toneladas de CO2 equivalente, segundo o SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa). A maior fatia (34%) tem origem no setor de energia, que compreende transportes, produção de combustíveis, geração de eletricidade para segmentos residencial, agropecuário, comercial e público; 32% vem de processos industriais; que se somam aos 16% produzidos a partir da agropecuária, principalmente gado de corte e de leite. Também são contabilizados 11% das mudanças no uso da terra e 7% de resíduos sólidos.
O Estado ocupa a 17ª posição em emissões no Brasil, com 1,5% do total. Para ser um protagonista na mudança, o Espírito Santo tem inúmeros caminhos, incluindo a redução do consumo de energias de vários tipos, em especial aquelas de origem fóssil, com sua substituição pela produção de energias solar e eólica; o aumento das eficiências energéticas das indústrias; e a redução do desmatamento e das queimadas. Além de reduzir as emissões, outro caminho é aumentar o sequestro de carbono da atmosfera.
Conhecemos pelo menos cinco maneiras de retirar o carbono da atmosfera:
1. Florestas: removem carbono naturalmente, via fotossíntese, estocando-o nas árvores e no solo. É uma alternativa em que o Espírito Santo tem know-how, experiência de mais de 50 anos de plantios e manejos, escolas e pode atrair outros investimentos.
2. Modelos de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF): acumulam carbono nos solos, melhorando a qualidade da terra e aumentando a sua produtividade. Esse modelo permite integrar vários stakeholders e criar renda para o produtor rural.
3. Bioenergia e novos materiais: seria possível utilizar as terras degradadas para plantio de árvores para a produção de energia. Poderia incluir também os resíduos florestais e da agricultura, como é realizado na Espanha. Além disso, novos produtos estão sendo desenvolvidos a partir da madeira, incluindo tecido, biomateriais para substituição do plástico, entre outros.
4. Novas tecnologias a partir do oceano: nosso Estado é pequeno, mas tem uma riqueza e um potencial ainda pouco explorado que é o mar e sua extensão costeira para além do turismo, pesca e aquaviários. Uma tecnologia que já está em desenvolvimento pelo mundo alavanca a fotossíntese em plantas de áreas costeiras, desenvolve o fitoplâncton, incluindo a adição de certos minerais para aumentar a estocagem de carbono capturado. Nossas universidades podem se especializar nesses assuntos e inovar.
5. Captura direta do ar: uma tecnologia já em pleno desenvolvimento, ainda cara, que requer calor, energia e água (um recurso cada vez mais escasso), mas já em uso na geração de energia elétrica na Escócia e Inglaterra.
Dessas cinco alternativas, o Espírito Santo pode com alguma facilidade se movimentar rapidamente nas duas primeiras – florestas e ILPF –, pois possui cerca de 400 mil ha de terras degradadas, que seriam muito úteis para uso como florestas plantadas, gerando a redução imediata de CO2 e podendo atrair novos investimentos em projetos de celulose, MDF, indústria de biocombustível, trazendo oportunidades de empregos e alavancando os nossos portos, ainda pouco utilizados.
Como as florestas plantadas no Estado tem um desenvolvimento bastante consolidado, têm o potencial para sequestrar cerca de 40 tCO2 eq/ha/ano. Se assumirmos um plantio de 250 mil hectares e recuperação de outros 150 mil hectares com nativas, podemos sequestrar até 15 milhões de toneladas de CO2 eq/ano, mais de um terço do que foi emitido.
Mudanças na postura do Espírito Santo nos tornaram menos atrativos aos vários projetos que surgiram no segmento no Brasil, como a Veracel; uma das três fábricas que foram para Três Lagoas (MS) ou uma das duas fábricas no Uruguai. Poderíamos atrair esses projetos usando terras que estão atualmente improdutivas, aumentando o PIB do Estado e reduzindo as nossas emissões. Neste momento dois grandes projetos estão em construção em São Paulo e em Minas Gerais, com investimentos de mais de R$ 35 bilhões. Pelo menos um deles poderia ter vindo para o ES.
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E o que é preciso? Basta que o Estado avalie a importância desse assunto, decida o quanto precisa reduzir suas emissões e estude como modernizar suas leis ambientais e adote políticas para atrair tais investimentos, dando melhor destinação às terras degradadas do seu Noroeste e do Sul do Estado, onde teremos novos portos. Com um bom planejamento, zoneamento florestal, segurança jurídica e bom ambiente de negócios, podemos atrair novos projetos. Em um mundo acelerado e com grandes desafios ambientais, o plantio de árvores é uma das melhores alternativas para desenvolver novos produtos e mitigar as mudanças climáticas no Espírito Santo e no mundo, pois conhecimento, tecnologia e condições de clima e solo já temos.
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