Pensar um empreendimento imobiliário em nossos dias é algo que vai muito além de questões elementares como número de pavimentos e unidades, espaços de uso comum e fachada.
Como em outros setores da economia, um produto não pode mais ser considerado apenas um produto em sua constituição básica. Um imóvel não é apenas a junção de cimento, tijolos e tinta, tal como uma roupa não é só algodão ou elastano e um sapato e uma bolsa não são apenas couro.
Produtos carregam sentidos, contam histórias, conversam com modos de vida, desejos, valores e necessidades do consumidor, e isso vale também para empreendimentos imobiliários.
É claro que, em um país com um déficit habitacional tão expressivo, ter um lugar para morar pode ser considerado privilégio, apesar de não ser. Mas, mesmo diante de limitações socioeconômicas, pensar em um imóvel para morar é circular pelo universo do sonho e do desejo, como mostra a popular expressão “o sonho da casa própria”.
E é nesse sentido que pensar um empreendimento imobiliário deve ser entendido como um desafio que se inicia muito antes da pedra fundamental. O sucesso de vendas e a satisfação do cliente – que virão lá na frente – começam a ser construídos quando se pensa no conceito do empreendimento.
O conceito é, por assim dizer, a alma de um projeto imobiliário. Desenvolvê-lo é se debruçar sobre a cultura, a arte, o comportamento humano, as novas tecnologias, as regionalidades e as tendências.
Um exemplo significativo é o advento da inteligência artificial. Vivemos um momento em que a tecnologia toma cada vez mais o espaço humano no mercado de trabalho. Como consequência, somos chamados a uma nova postura: mais reflexiva, criativa e sensível em detrimento do que é padronizado e que pode ser bem mais facilmente absorvido pela inteligência das máquinas.
Se até agora vivíamos em uma sociedade focada na produtividade, no “tempo é dinheiro” e no “trabalhe enquanto eles dormem”, o que percebemos hoje é um movimento de ruptura em que a produtividade cede lugar à criatividade como um diferencial e um atributo muito mais importante.
E, nesse contexto, temos a valorização, o hype em cima de hobbies manuais como cerâmica e a culinária; temos o desejo de estar mais em contato com a natureza, seja o mar, seja o verde; temos a importância do tempo livre dedicado ao lazer e ao descanso, onde a criatividade encontra terreno para germinar, na linha do já muito discutido “ócio criativo”, do sociólogo Domenico de Masi, falecido em setembro do ano passado.
Tendências que, nos empreendimentos imobiliários, se materializam em espaços de ateliês, em áreas ao ar livre para uso comum, hortas, bosques e até parreirais, com elaborados projetos de paisagismo; spas, restaurantes e cinemas; conversando entre si porque foram pensados e incorporados ao projeto não de forma aleatória, mas a partir de um mesmo conceito.
Desenvolver o conceito é, portanto, estabelecer um “norte” que servirá de guia para cada nova etapa do empreendimento: o planejamento, a gestão, o projeto arquitetônico, o design de interiores e a incorporação.
No final, ganham todos: a empresa que desenvolve projetos marcantes e conectados com as demandas dos novos tempos, o investidor que terá diferenciais para oferecer, o morador que fica mais perto de conectar necessidade, desejo e sonho e a cidade que recebe projetos que dialogam com a vida e a cultura onde estão inseridos. Não há combinação melhor e mais equânime.
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