A era da Covid-19 será conhecida pelos dilemas e escolhas drásticas necessárias ao enfrentamento desse problema global. A proliferação do vírus e o risco de morte promovem um cenário aterrador. O noticiário na TV nos faz sentir personagens de um filme apocalíptico, no qual a humanidade se depara com uma realidade até então inimaginável. Notícias de Londres, da China e de Nova York confirmam a escala mundial de uma nova doença. No Brasil, o número de contaminados se multiplica a cada dia.
O medo é compartilhado por pessoas de diversas nacionalidades, assim como as angústias decorrentes da doença e das medidas adotadas na tentativa de superá-la. Para alguns, o isolamento social indiscriminado ou "quarentena" seria medida exagerada e desproporcional. Os consequentes prejuízos à economia gerariam danos mais significativos à população do que a própria doença, alguns defendem. Para outra parte da opinião pública, não há outro caminho para preservação das vidas, especialmente dos mais vulneráveis.
Logo, todas as medidas propostas recebem, invariavelmente, críticas por uma parte da população. Necessário que a sociedade pense e discuta as medidas, tanto as tomadas quanto as omitidas. Todavia, chegamos a um embate.
O quadro é inédito. Mesmo nas grandes guerras, o Brasil enfrentou a crise com certa distância. Mas agora não. Neste momento, o algoz está à nossa porta, à espreita, ameaçando diretamente aqueles que amamos, ao mesmo tempo potenciais vítimas e disseminadores do vírus.
Nesse contexto, surge o dilema: priorizaremos as medidas sanitárias de isolamento social ecoadas por especialistas e pagaremos o preço de uma indiscutível recessão econômica? Ou preservaremos a economia, mantendo os serviços, os empregos e o mercado na forma hoje conhecida?
Acreditamos que, aqui, a escolha de que caminho seguir não se mostra tão difícil. Afinal, a ciência indicou o caminho do isolamento social, em caráter amplo, e o conhecimento científico deve ser o critério a prevalecer no momento, em face de um inimigo ainda desconhecido e perigoso. Até mesmo os interesses econômicos deverão se guiar pelas medidas apontadas por especialistas sanitários, médicos, cientistas e uma equipe infindável de profissionais especializados. Afinal, a vida que nos aguarda pós pandemia, com recessão ou sem, só irá acontecer se preservarmos ela própria.
Independentemente do viés adotado para a solução do dilema, não se pode negar que a crise é uma singular oportunidade de reflexão sobre uma forma mais fraterna de vivermos em sociedade, de lidarmos com a economia e com a necessidade de se respeitar a vida de todos.
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O autor é professor da FDV e promotor de Justiça. A autora é analista judiciária da Justiça Federal
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