O ecossistema de inovação do Espírito Santo vive um momento de efervescência. Temos feito progressos no ranking de competitividade dos Estados, atualizado anualmente pelo Centro de Liderança Pública. Estamos em 9º lugar: ganhamos 4 posições de 2020 para 2021, o que é digno de comemoração.
Temos atores privados e públicos atuando em várias frentes, entre elas a MCI – Mobilização Capixaba pela Inovação, um fórum representativo que atua como articulador entre academias, empresas, governo e instituições, com o compromisso de impulsionar e fortalecer o segmento.
Contamos com o comprometimento de diversos atores privados e públicos, para que o Espírito Santo esteja entre os cinco Estados mais inovadores do Brasil até 2030. Se intensificarmos nossos esforços e atuarmos de forma convergente, estimo que esse resultado poderá ser alcançado já em 2026.
Temos investidores privados e importantes fundos de investimentos interessados e com grande disposição para apoiar startups com recursos que ultrapassam a casa dos R$ 300 milhões.
São recursos disponíveis para o desenvolvimento de empresas de base tecnológica, em fundos como o FIP (Fundo de Investimento em Participações), lançado em março pelo governo estadual, e o Funcitec/MCI, lançado em 2018.
Em recente entrevista para A Gazeta, o CEO da aceleradora ACE, Pedro Waengertner, destacou: “Temos que combinar talentos de fora com talentos do Estado. Já há interessados de fora, e creio que isso vá aumentar daqui pra frente. Teremos empreendedores buscando o Espírito Santo para instalar seus negócios. Qual o motivo de não ser em um lugar maravilhoso como o ES?”
De fato, nosso Estado tem um conjunto de ativos que poucos possuem e que são capazes de atrair empreendedores: uma economia diversificada, com grandes plantas industriais, agricultura, serviços, comércio e logística. Soma-se a isso boa qualidade de vida, as belezas naturais do mar e das montanhas, estabilidade institucional, boas escolas públicas e privadas e incentivos fiscais.
Deve continuar sendo nossa prioridade nos valermos dessas vantagens para subsidiar um esforço continuado para tornar o Estado uma referência e ainda mais atraente para se investir e viver.
Esse cenário favorável, aliado aos esforços em favor da inovação, contudo, poderiam ter resultado no surgimento de um número bem maior de startups. Mas não é exatamente o que aconteceu, pelo menos na proporção desejada.
O StartupBase, que reúne os dados oficiais, aponta cerca de 21,8 mil startups no Brasil. Como o Espírito Santo reponde por cerca de 1,9 % do PIB nacional, poderíamos contar com 406 startups. O mesmo levantamento indica que Santa Catarina tem 933 startups.
Levando-se em conta nossa dimensão, é possível projetar que poderíamos ter algo como 520 startups em terras capixabas. No entanto, pelo levantamento realizado no final de 2021, com o apoio da EDP e parceiros locais, foram identificadas cerca de 130 startups.
Sabemos que a relação não é direta, mas é evidente a distância entre os recursos disponíveis, os esforços dispendidos pelo ecossistema e o resultado prático alcançado.
Santa Catarina está em 2º lugar no ranking geral de competitividade dos Estados, perdendo apenas para São Paulo, e em 3º lugar no ranking da inovação, e nós estamos em 9º. Isso nos convida a uma reflexão.
Segundo a Associação Catarinense de Tecnologia, entre 2015 e 2020 o número de empresas do setor de tecnologia e inovação cresceu 63% e hoje já representa 6,1% do PIB catarinense. Mas não foi assim desde sempre!
Nos anos 90 estávamos praticamente no mesmo patamar de Santa Catarina, debatendo à época a importância de colocar o desenvolvimento tecnológico na agenda das prioridades para o Espírito Santo e para Vitória, em particular. Ousamos em várias direções, mas não demos continuidade.
Hoje Santa Catarina possui oito parques nas categorias tecnológicos, científicos e de inovação. E o que fez de diferente? Visão estratégica? Bom planejamento? Clara identificação dos gargalos? Capacidade de enfrentamento? Soma de esforços e disciplina de execução? Boa sinergia? Atuação convergente e colaborativa? Deixou de lado o (ego)ssistema e partiu para construir um ecossistema de inovação? Ou foi tudo isso junto?
Diante dos desafios, temos que escolher nossas prioridades e agir. Muitos empreendedores vêm apontando insistentemente que nosso principal gargalo está na formação de talentos impregnados por uma cultura de empreendedorismo e inovação.
Sem pessoal devidamente qualificado teremos dificuldades em acelerar nossa intransferível jornada de criar muitas startups vencedoras.
É digno de louvor os esforços que vêm sendo feitos pelas nossas faculdades e universidades, e alguns atores privados como a Associação Capixaba de Tecnologia - Action, para enfrentar esse grande desafio, que não é simples, não é rápido, mas é necessário e urgente.
Precisamos focar no estratégico e acelerar!
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.