Celebramos mais um Dia do Trabalho no último dia 1º de maio, relembrando os conflitos e manifestações ocorridos ainda no século XIX, mais precisamente em 1886, em Chicago. Por aqui, somente em 1924, com o presidente Arthur Bernardes, a data foi oficializada. E de lá para cá, década a década, mais que um bom dia para relaxar e ficar em casa, o 1º de Maio tem sido marcado por imensas manifestações organizadas por sindicatos e outros grupos representativos da classe trabalhadora.
Pois bem. Passados quase cem anos da oficialização dessa data tão significativa no Brasil, intuímos que o debate mereça, talvez, uma certa atualização em seu conteúdo. Afinal, é preciso saber: essas mesmas agendas reivindicatórias permanecem atuais ou, com o passar dos anos, os “explorados no mundo do trabalho” vêm sendo substituídos paulatinamente pelos “desnecessários no sistema produtivo”?
A resposta, no nosso argumento, passa por uma espécie de reviravolta no mundo do trabalho. É, pelo menos, como também propõe o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor, entre outras obras, do bestseller “Sapiens”. Segundo ele, máquinas – ou melhor, “inteligências” – tenderiam, num futuro próximo, a substituir humanos em uma série de funções laborais, da medicina ao mercado financeiro, por exemplo.
Para ele, em apertada síntese, a vantagem competitiva das novas tecnologias não estaria (apenas) sedimentada no bom alinhamento com o discurso contrário a direitos trabalhistas, mas principalmente na identificação de padrões. Combinada em rede, essa espécie de “intuição algorítmica” daria vantagem sobre os humanos no mercado, não apenas quantitativa, mas qualitativamente. Isso significa que a automação não faria apenas “mais e mais rápido”. Faria “mais, mais rápido e melhor”.
Colocadas nesses termos, essas questões todas parecem embaralhar as justas reivindicações do passado. Afinal, se a passagem do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro já impôs graves consequências ao mundo dos empregos, a massificação da Inteligência Artificial tende, inclusive, à anulação de determinadas agendas políticas, como a que propõe, desde Marx, traduzir o poder econômico do proletariado em poder político.
Na verdade, é difícil imaginar o próximo lance no tabuleiro da História, e também estamos longe da pretensão de tentar adivinhá-lo. Mas o prognóstico não é favorável. Precisaremos reorganizar nossa vida com projetos de renda mínima universal? Como sustentaremos programas de bem-estar social? As questões estão em aberto. A ver.
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